Quando seu dinheiro vale muito

A gente vive falando que viajar é caro, que o dólar está muito alto e que o real desvalorizou. Tudo isso depende do ponto de vista. Por vezes a gente reclama e nem percebe, já reparou? Tem lugares em que nossa moeda vale muito e somos vistos como pessoas privilegiadas por poder conhecer outros lugares, nem que seja uma vez a cada par de anos. Pense nisso!
É por isso que eu amo viajar. Viagens abrem nossos olhos para muita coisa e nos fazem ver o mundo de forma diferente. Depois de ver o trânsito do Vietnã eu nunca mais reclamei do de São Paulo, por exemplo. Ao ver outras culturas, outros pontos de vista, outros jeitos de lidar com situações diversas, a nossa mente se expande, nos tornamos mais tolerantes, mais compreensivos, mais empáticos.
O sudeste asiático, no geral, é bem acessível. A passagem para chegar lá pode ser um pouco salgada, mas os preços locais são convidativos. É por isso que a região é conhecida como paraíso dos mochileiros. Cultura rica, paisagens lindas e hospedagem e comida boa e barata. Tem hostel por 3 ou 4 dólares/dia e um prato de fried noodles na rua pode sair por 1 dólar. (Se esse não é seu estilo de viagem, não se preocupe, tem opções para todos os gostos e bolsos).
Leia também: O que você precisa saber antes de ir para o sudeste asiático
Foi lá no Vietnã que encontrei sorrisos, preços irrisórios e tive uma grande lição da moça que vendia café em uma loja. Provavelmente ela nem sabe disso e fica aqui o meu pedido de desculpas por ter irritado ela e a gratidão pela reflexão que ela me proporcionou.
Para dar uma noção de valores, a cerveja mais barata do mundo você encontra em Hanói, a capital. Um boteco de rua com banquinhos que não chegam a altura dos joelhos espalhados por toda a calçada e uma mistura de vietnamitas com europeus e gente de todo canto do mundo. O copo custa 25 centavos de dólar (pelo menos esse era o preço em 2014). Dá pra ficar bêbado gastando bem pouco.

Só para comparação, na conversão de hoje (1USD = 3,2 BRL) 1 litro seria em torno de 4 reais (R$ 3,50 na época em que eu fui). Se em São Paulo eu vou para o bar e o litro está 10 reais, eu comemoro por achar muito barato. Veja que é mais que o dobro do valor de Hanói.
O Vietnã é um país pobre e a infraestrutura ainda tem muito para melhorar. Entre outros fatores, isso faz dele um país super barato para viajar. Vale dizer que, diferente de seus vizinhos do sudeste asiático, a pechincha não é prática comum. Você até pode conseguir um descontinho, mas não espere chegar à metade do valor inicial, como acontece na Tailândia ou em Bali, por exemplo. Insistir em baixar demais o preço pode soar como ofensa.
Fica a dica para quem vai para esses lugares e se empolga nos descontos. Não é legal ser enganado e pagar absurdamente mais em um produto, assim como não é legal abusar na negociação. Lembre que vender é o trabalho dessas pessoas, elas precisam desse dinheiro para colocar comida na mesa da casa delas. O turismo é muito forte nesses países e eles contam com o seu dinheiro sim, para movimentar a economia. Pesquise e entenda quais são os preços praticados pelos locais, sem pagar muito a mais nem muito a menos (na verdade, ninguém vai te vender nada se for ter prejuízo). Tem que ser justo para os dois lados. Veja a história abaixo que eu já volto nesse assunto de negociação de preços.
O café vietnamita é bem famoso. Um dia estava com um canadense e ele queria comprar alguns pacotes para levar para casa. Passamos em algumas lojas para pesquisar preços e chorar um descontinho acaba se tornando natural para quem passa meses no sudeste asiático. Escolhemos uma das lojas por qual passamos e começamos a pechincha. O máximo que conseguimos foi 50 centavos.
Tanto esforço para tão pouco, né? Isso no seu (e no meu) ponto de vista. A vendedora ficou brava e disse que 50 centavos no Canadá pode não ser grande coisa, mas para ela essa quantia era dinheiro e fazia diferença no orçamento do mês.
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Pode parecer exagero, mas faz muito sentido quando se compara o preço das outras coisas. O tour que peguei para conhecer Cu Chi Tunnels, os túneis usados pelos vietcongs durante a guerra, incluía o ônibus com ar condicionado que me pegou na porta do hostel, a viagem ida e volta de mais de uma hora até o local e um guia com inglês fluente que acompanhou o grupo o tempo todo. Foram cerca de 5 horas de passeio que me custaram 5 dólares e valeram cada centavo. Acho que foi o passeio com o melhor custo x benefício que eu já fiz na vida.
Se você fez as contas com os valores que eu passei até agora, com 12 dólares/dia dá para se hospedar, passear, comer e beber cerveja. E se considerar que nem todos os passeios incluem guias e transportes (museus, parques e passeio pela cidade, por exemplo), o valor por dia cai ainda mais.
Foi conversando com um senhor inglês, que também estava impressionado com os preços baixos praticados no Vietnã, que de fato constatei o quanto o valor do dinheiro é diferente de um lugar para o outro. 1 dólar continua sendo 1 dólar, seja no Brasil, no Canadá, na Inglaterra ou no Vietnã. O dólar é só a moeda que o mundo usa como referência para facilitar a comparação de preços. Mas será que ele vale a mesma coisa em todos os lugares? Qual a diferença entre preço e valor? É o tal quanto custa e quanto vale, sabe?
Voltando àquele raciocínio das negociações, que falei aí em cima. Disse que o valor precisa ser justo para os dois lados, lembra? Será que o que é justo para você é também para o vendedor, se considerarmos que a definição de valor do dinheiro é diferente para os dois? Provavelmente não. Por isso pechinchar, apesar de ser divertido para uns e um pé de saco para outros, é sempre um assunto delicado. Não é só o pagar mais barato, mas envolve o valor que você dá ao trabalho do outro.

Esse senhor inglês me disse que os vietnamitas que trabalham com turismo (seja em agências, hospedagens, restaurantes etc) tinham uma vida mais confortável porque é o setor que tem salários mais altos. Entenda por salário alto algo em torno de 200 dólares, o que é menos de um salário mínimo no Brasil. Agora, considere que a mocinha da loja do café é uma funcionária de um pequeno comércio e que, apesar de vender para turistas, não tem um salário alto como 200 dólares. Quanto vale os 50 centavos para ela?
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26 Comments
Uau Patrícia, que texto! Dá uma outra perspectiva pensarmos na diferença de preço e valor e no peso de cada dolar para cada pessoa :\
Não é, Lorraine?
A gente as vezes reclama muito, quando deveria agradecer. Eu mesma me policio muito nisso.
Algumas viagens nos trazem grandes lições de vida, gostei muito de ler o seu artigo, me permitiu várias reflexões.
Que bom que gostou, Gustavo! =]
As viagens trazem muitas lições mesmo, algumas mais, outras menos. O importante é a gente estar sempre aberto para os aprendizados e reflexões.
Que texto delícia de ler… Sempre bom aprender algo nas viagens, só nos faz melhorar e “evoluir” como viajantes. Muitas vezes não pensamos nesses “detalhes”, só vemos o nosso lado. =)
É muito fácil ver só o lado que nos convém, né? Eu tento sempre prestar atenção nessas coisas. É claro que vez ou outra escapa, mas é como vc disse – vamos evoluindo como viajantes (e como pessoas também).
isso de dinheiro é bem relativo mesmo, eu moro na Inglaterra e a moeda é bem valorizada, consigo viajar gastando pouco, mas mesmo com libras, achei caríssimo os preços das coisas no Brasil!
Tem coisas no Brasil que o preço é sem noção mesmo.
Dinheiro é bem relativo mesmo.
Excelente reflexão Patrícia! É isso ai! Eu não só concordo que viajar abre mentes e horizontes como sempre me pego comparando valor e “o quanto vale” nos locais. Temos que pensar nisso e sermos relembrados sempre. Amei!
Com certeza! Acho que só estando de fato em outros lugares que temos noção dessas coisas. Entre essas e outras, por isso que viajar é tão bom!
Ótima reflexão. Mesmo as vezes sendo um pouco salgado gosto de pensar: Quem converte não se diverte. Ou seja, se já estamos no lugar, deixaremos as contas para quanto voltar pra casa. SHOW!! 🙂
Converter não é a melhor saída. É uma boa base para comparar o que estamos acostumados a pagar, mas não reflete o valor das coisas in loco.
Muito boa a reflexão que você trouxe no seu texto. Até que ponto vale a pena ficar implorando por desconto, né? Às vezes nos falta um pouco de empatia…
Agora cinco dólares por um passeio de cinco horas, com ar condicionado e tudo, é demais!
Pois é… temos que achar o valor justo. Ser enganado não é bom, implorar por descontos abusivos tbm não. Empatia define muito a situação!
Os preços no Vietnã são assim, além de ser um país cheio de história, de sorrisos, de paisagens, de gente boa… Saudades desse lugar!
Gosto muito dos seus textos, Patricia! Essa é uma reflexao muito importante e é incrível como viajar nos abre a mente e nos faz pensar em questões que nunca paramos pra pensar. O valor do dinheiro para cada pessoa é realmente relativo e aquele 50 centavos que pra gente não é nada, pra aquela pessoa que vive uma outra realidade é muito!
É isso aí, Taís! Gosto muito dessas reflexões que as viagens nos trazem tbm e como nos fazem crescer como pessoas. =]
Oi! Uma ótima reflexão em como cada canto do mundo é diferente. Identifico-me muito com a frase “Viagens abrem nossos olhos para muita coisa e nos fazem ver o mundo de forma diferente.”. Boas viagens!
Obrigada, Susana!!
Eu tenho essa frase comigo em todas as viagens que faço. Há sempre uma nova oportunidade de aprender alguma coisa, né?
Sou fã dos seus textos, Patrícia! Não há como não refletir! O Abud é que gosta de negociar, sabe, eu já sou mais do tipo de pagar o valor que é pedido, não curto pechincha, se acho que vale o preço cobrado e tenho o dinheiro pra pagar e ainda se for de utilidade eu compro! Mas, óbvio que muitas vezes nós acabamos negociando também, confesso que acho chato demais, deixo essa parte para o Abud, mas sempre pego no pé dele quando acho que ele está extrapolando, afinal, tenho algo comigo de que “o sol nasceu pra todos”, se a pessoa está ali vendendo é porque ela precisa que alguém compre e se vou comprar, nada mais justo do que valorizar a pessoa que está ali pra me oferecer, é um círculo vicioso rs.
Beijos e parabéns pelo texto!
Que lindo comentário!! =]
Confesso que eu tbm não gosto de pechinchar. Tenho uma certa preguiça e acho chato ficar pedindo desconto. Mas depois de algum tempo pelo sudeste asiático, isso começa a se tornar natural e a gente faz até sem pensar muito.
Concordo muito com o que vc disse sobre o sol nascer para todos. É esse o espírito! =]
Adorei seu texto, tudo é sempre uma questão de perceptivas, muitas vezes só queremos enxergar uma e ela limita as comparações, assim como é importante pensamos no próximo, algo que pode não fazer diferença pra mim pode ser muito pro outro.
As vezes falta um pouco disso, né? Pensar no próximo. A gente tem que se policiar sempre. É isso mesmo, histórias diferentes, perspectivas diferentes, valores diferentes.
Amei esse texto, Paty. Uma reflexão bem bacana. O valor pode ser irrisório pra gente, mas para outros pode ser grande.
A referência muda demais de um lugar para o outro e as vezes a gente nem se dá conta, não é?
Adorei sua publicação, vou em janeiro para Ho Chi Minh, como mochileiro, quero passar 12 dias por la. Serei recebido no Aeroporto por uma Vietnamita, a qual mantenho contato a mais de 5 meses. Conheço ela e toda sua familia pela rede social, e ja arrisco algumas palavras no idioma vietnamita. Sei que vou ter um choque de cultura, mas é tudo que quero. Sou idoso,aposentado,familia criada,divorciado, tenho muita energia e disposição, não vou me render ao sofá e a tv de minha casa.
Seu post, aumentou ainda mais minha confiança em viajar, obrigado, continue assim e sempre.
Abcos
Helenio,
Me emocionei com a sua mensagem.
É isso aí, disposição e energia para conhecer o mundo!
A experiência com locais transforma a viagem. Aproveite muito!!!