O Vale Sagrado dos Incas

No último post falamos sobre a cidade de Cusco, o que fazer por lá e sobre as ruínas que estão nos seus arredores. Se você não leu esse post, veja aqui. Não muito longe fica a região conhecida como Vale Sagrado e ela definitivamente merece uma visita para ver mais ruínas e entender um pouco mais sobre a cultura inca.
A dica é fazer o passeio depois das ruínas de Cusco e antes de Machu Picchu. Além do Vale Sagrado ter ruínas maiores e mais impressionantes, existe uma questão logística que vou detalhar nos próximos posts.
Como o nome diz, o Vale Sagrado é um vale, ou seja, mais baixo que Cusco e um alívio para quem sofre com o soroche (mas não a solução definitiva, ainda estamos há cerca de 2.600m). Recomendo contratar um tour para esse passeio, pois os locais não são perto um do outro e é preciso de uma explicação de alguém que conheça o local para tudo fazer sentido. Transporte + guia são necessários. O roteiro inclui passagem por 4 cidades – Pisac, Urubamba, Ollantaytambo e Chinchero – e alguns incluem almoço, outros não, depende da agência. Uma coisa ou outra varia de empresa para empresa, assim como valores. Dê uma pesquisada antes, o centro está cheio delas e ficam aberta até às 21h, mais ou menos.
No post de Cusco falei sobre o boleto turístico e para o Vale Sagrado você vai precisar dele. Pode ser o completo, que dá direito a entrar nas ruínas do roteiro + ruínas de Cusco + museus ou o parcial apenas para as ruínas do Vale Sagrado. Fica a seu critério. Ele pode ser adquirido na entrada de qualquer atração (que faça parte do próprio boleto).
Saindo de Cusco, a van vai passar pela mesma estradinha onde ficam as ruínas de Sacsaywaman, Tambomachay etc… até chegar em Pisac. A primeira parada foi uma loja de prata (coisas de excursão e com certeza o guia e/ou a agência são comissionados pelas vendas). O Peru é um grande produtor desse metal, sendo o primeiro da América do Sul e o quarto do mundo. A prata peruana tem uma qualidade melhor que a brasileira, sem falar que é mais barata (mas não em locais turísticos).
Logo em frente tinha uma feira de artesanatos enorme que vendia roupas, pedras, bijouterias etc. O que mais se escuta por lá é baby alpaca. Alpaca é um animal, primo da lhama, com o qual os locais usam o pelo para fazer roupas, praticamente a ovelha dos Andes. Baby alpaca não significa que eles tosam os bebês, mas que é o primeiro corte, que tem mais qualidade. A lã de alpaca é super macia, mas duvide ao comprar nas ruas. O que todos os guias disseram é que baby alpaca se compra mesmo nas lojas, o que vende na rua é maybe alpaca (provavelmente são fios sintéticos). Peças mais finas são feitas de vicuña, outro primo das lhamas, considerada a fibra mais nobre do mundo e são caríssimas (e super macias). Mesmo em lojas mais sofisticadas as peças de vicuña são expostas com proteção de vidros, como se fossem jóias.

Depois do momento parada para compras, seguimos para as ruínas de Pisac, subindo montanha acima. Tem duas coisas que impressionam logo de cara: o vale e sua bela paisagem que se tem lá de cima e os incríveis terraços construídos pelos incas, provavelmente o maior conjunto que essa civilização fez. Esses terraços serviam para a agricultura e também para evitar a erosão da terra.
Antes de visitar as ruínas, uma aula sobre a história inca e sua cultura sentada no gramado, com um sol agradável batendo no rosto e a linda vista do vale. Se minhas aulas de história do colégio tivessem sido assim eu teria aprendido bem mais e de forma menos traumática (confesso que eu odiava essa matéria quando era criança). Vou deixar para detalhar todo esse conteúdo histórico em outro post, já que informação é o que não falta. Mas vou adiantar um ponto, o interessante de lá é que foi o único lugar que vi o local onde os incas enterravam os mortos, o que eram na verdade buracos nas montanhas. Os corpos eram enterrados em posição fetal, pois eles acreditavam no renascimento.
Depois do momento aula, chega o momento subir escadas! E prepare-se porque são muitos degraus, todos de pedra e irregulares, alguns tem corrimão, outros não, alguns são bem estreitos e outros tem um barranco ao lado (exatamente aqueles sem corrimão). Mais um detalhe, a altitude não colabora muito. A subida cansa, falta ar e é mais difícil de respirar, mas já que você chegou até Pisac, não vai deixar de conhecer o lugar, né? Suba no seu ritmo e pare para descansar e tirar uma foto quando precisar. Só cuidado com o horário se estiver com o tour, para não atrasar o grupo todo.
Veja as ruínas na foto abaixo. A ideia é chegar ali na casinha no topo da montanha (dá para ver só o telhado dela), dá para ver as pessoas em diferentes estágios da subida. No caminho tem vários “quartos”, não sei dizer se eram casas de apenas um cômodo, se eram um depósito ou se tinham outra função, mas repare na forma como foram construídos e no encaixe perfeito das pedras uma nas outras. Algumas são mais polidas e outras mais rústicas (são estilos diferentes de construção), mas sempre tem um encaixe perfeito. As paredes tem uma pequena inclinação e muitas das janelas são cegas, ou seja, existe o buraco, mas ele está fechado. Esses eram os sistemas anti-terremoto que mantiveram essas construções de pé até hoje, mesmo depois de dois grandes tremores que abalaram o Peru.

Após tantas escadas, chega a hora de repor as energias! A parada para o almoço foi na cidadezinha de Urubamba, em um restaurante chamado Alhambra. O almoço estava incluído no meu tour, então não sei dizer se foi caro ou barato, mas a comida estava deliciosa, a melhor que comi na região, e o lugar era lindo! Era serviço de buffet e incluia sopa de quinua (um grão bem típico do local), saladas, carnes variadas, 2 tipos de arroz, torta de batata e muitas sobremesas. As bebidas são a parte.
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Nesse restaurante também tinham várias alpacas (aquele primo da lhama), bacana para quem não conhece o animal ter uma ideia de como ele é. Eles são domésticos, super dóceis e dá para tirar fotos ao lado deles.

O próximo destino foi as ruínas de Ollantaytambo, lugar que já foi uma cidade inca. Como não podia ser diferente, na entrada tem uma feira de artesanato e um monte de crianças com baldes cheios de garrafas de água tentando te vender uma (tenho dúvidas se essas águas são minerais ou tornerais). Ao fundo tem uma grande montanha e você logo vai reparar que tem uma construção no meio dela.
Ao entrar nas ruínas, mais terraços e escadas! E adivinha, mais uma subida de tirar o fôlego. Paramos em um dos terraços para a segunda parte da aula de história do dia e boa parte dela falava da montanha que fica bem em frente (a mesma que fica atrás da feira de artesanato). A construção isolada que existe lá foi um depósito de comida estrategicamente posicionado. Mesmo em dias quentes o local se mantinha fresco e arejado devido aos ventos e às correntes de ar formadas pelas montanhas, assim os incas conseguiam estocar alimentos para as épocas em que a colheita não era farta.
Essa mesma montanha tem formações que parecem 2 rostos. Elas são naturais e para os incas eram como representações divinas. Um dos rostos fica bem ao lado do depósito de comida e lembra um homem carrancudo com uma coroa. O outro é um rosto de uma mulher de perfil e fica na lateral da montanha, dizem que o primeiro raio de sol do dia de solstício de verão, passa exatamente pelo olho dessa mulher. O guia até mostrou fotos de um livro que mostram esse momento.

Um passeio pelo local mostra mais uma vez a precisão e perfeição das construções sempre em pedra, paredes inclinadas, janelas cegas… Uma das paredes tem resquícios de esculturas de puma, um animal sagrado para eles, mas que perderam as cabeças (é preciso ter imaginação para enxergar esse pumas) e também uma representação da chakana, uma forma geométrica que lembra uma cruz e que representava toda a ideologia dos incas. Há também um relógio de sol bem diferente e interessante. O local ainda possui um sistema de dutos de água em funcionamento. Alguns lugares eram usados para banhos de purificação das pessoas mais importantes.
Depois de Ollantaytambo, a próxima parada é a cidade de Chinchero com mais ruínas para visitar, antes de retornar para Cusco. Porém, eu não fui para essa cidade e também não voltei para Cusco com o tour. Fiquei no centro de Ollantaytambo porque de lá partem os trens para a cidade de Aguas Calientes, também conhecida como Pueblo Machu Picchu, a porta de entrada para as ruínas eleitas como uma das novas maravilhas do mundo – sim, Machu Picchu. No próximo post eu conto como chegar lá!
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