O desafio de comer na Coréia do Sul

Essa é mais uma história que envolve a minha dificuldade de comunicação na Coréia do Sul. Eu já contei aqui como foi o desafio de lavar roupa, agora vou contar como foi a experiência de alguns dos almoços e jantares. O maior problema foi a comunicação mesmo, a comida coreana é fantástica, cheia de sabores e pimentas. Eu sou fã de carteirinha de um restaurante coreano que tem no bairro da Liberdade, que conto neste post.
Como eu disse no outro post, o alfabeto coreano é completamente diferente e eu não entendo nada. Além disso, é difícil encontrar pessoas que falem inglês e possam de dar alguma informação com mais detalhes.
Eu estava em uma viagem de orçamento bem apertado e a Coréia não é dos países mais baratos da Ásia, então opções de baixo custo eram sempre muito bem-vindas (as vezes elas eram um cup noodles coreano da loja de conveniência). Eu estava em Juju-do, uma ilha no sul do país, e perguntei para o mocinho da recepção do hostel em que estava hospedada se ele me recomendava algum lugar para jantar, algo bom, perto e barato. Eu já tinha andado bastante naquele dia, estava cansada, com fome e ainda estava chovendo. Não queria me deslocar muito ou ter que pegar um ônibus. Esse cara era uma figura! Ele pensou por alguns segundos, pegou um papel e começou a desenhar um mapa para mim. Colocou os nomes em letras coreanas e logo abaixo o que significava em inglês e explicou: “se você se perder, mostre esse mapa para qualquer pessoa na rua que eles vão saber te ajudar”.
O restaurante que ele indicou realmente era perto e fácil de chegar, com o mapa não tinha como errar (e olha que eu não sou a pessoa mais bem localizada do mundo). O lugar era simples, grande e não estava muito cheio. Entrei, escolhi minha mesa e sentei esperando que alguém me trouxesse o cardápio. Uma senhora veio até a mesa, falou qualquer coisa que eu não entendi, me entregou uma caneta e um papel e saiu.

Eu olhei para o papel e comecei a rir sozinha. Entendi que eu deveria escolher o meu prato, mas o que fazer? Ela voltou falando mais coisas que não entendi e eu perguntei se ela tinha um cardápio em inglês. A senhora olhou para mim com uma cara de assustada e desembestou a falar e a balançar a cabeça (depois de alguns dias na Coréia eu já tinha entendido que se eu não abrir a boca, passo por coreana sem nenhum problema). Ela pegou na minha mão, começou a me puxar em direção à porta e me levou para o lado de fora. Estaria ela me expulsando do lugar só porque eu não sabia escolher o que jantar?
Ali na calçada ela apontou para um banner que estava ao lado da porta, virado para rua. Nele tinha umas 6 opções de prato, com fotos e seus nomes em coreano, japonês, chinês e inglês. Minhas alternativas reduziram imensamente se comparadas ao papel que ela me entregou, mas melhor isso que nada. Escolhi um prato que chama mandulguk. Comida coreana não é minha especialidade, mas conheço alguns pratos e esse eu sabia que ia gostar (pelo menos eu curtia quando pedia nos restaurantes coreanos de São Paulo). Estava com fome e queria evitar surpresas naquele jantar. Ela marcou o meu pedido e me devolveu o papel.
Enquanto esperava vi que as pessoas da mesa ao lado se levantaram, abriram um pequeno armário para pegar copos e água de um filtro ao lado. Fui fazer o mesmo. Esse pequeno armário tem dentro luz ultravioleta para esterilizar os copos.
Minha comida chegou e estava uma delícia! (me deu até água na boca escrever esse post e rever essa foto)

Os pratos coreanos são sempre acompanhados de uma porção de arroz, de kimchi (acelga apimentada em conserva – é o vermelhinho da foto) e de pequenas porções de alguma outra coisa. O arroz sempre branco e geralmente nessa tigela de metal. A colher e os palitinhos de metal também. Curiosidade: Coréia, Japão e China usam os palitinhos em suas refeições. No Japão eles chamam ohashi, têm formato cilíndricos ou quadrados e são de madeira. Na China são parecidos, mas mais compridos. Os da Coréia são de metal, achatadinhos e os mais difíceis de usar, então se você não tem prática, não comece pelos coreanos.
Na hora de ir embora peguei o meu papel com a marcação e levei até o caixa. A mesma senhora foi receber o pagamento e ficou apontando o valor que estava escrito, mas esse eu tinha entendido. 😉
Curti a comida de lá e os preços, então resolvi jantar no mesmo lugar todos os dias que estivesse na cidade. Mostrei a foto do cardápio para o mocinho da recepção me sugerir algo e também mandei para um amigo brasileiro de descendência coreana. A ideia era provar coisas diferentes.
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Quando sai de Jeju-do e fui para Seoul, encontrei um restaurante do mesmo estilinho. Não tive dúvidas e entrei, porém eu não sabia o que pedir. A mesma coisa aconteceu: o garçom veio e me entregou o papel para marcar a escolha do prato. Comecei a falar com ele em inglês e achei que ele fosse sair correndo de mim. Esse restaurante não tinha o banner com as fotos, então olhei para a mesa do lado e o almoço da outra pessoa parecia ter uma cara boa. Apontei para o prato do vizinho e foi assim que escolhi minha comida.
Voltei no dia seguinte mais preparada. Fui procurar a foto do pedido do mandulguk, decorei como era escrito e quando o garçom me entregou o papel eu procurei as mesmas letras e marquei sozinha. Confesso que fiquei orgulhosa de mim mesma nesse dia. Like a local. Yey!

Foi só nos meus últimos dias na Coréia que descobri algo que teria me ajudado muito. Estava em Seoul e fui no encontro do Couchsurfing. Poucos coreanos e muitos estrangeiros estavam lá, alguns morando na cidade há meses. Conversando com um deles sobre a dificuldade que eu tive para pedir comida ele me perguntou se eu sabia ler. Talvez eu saiba identificar se a letra está de ponta-cabeça ou não (eu disse talvez. Há grandes chances de eu errar). Depois ele me explicou o motivo da pergunta. O alfabeto coreano pode assustar os ocidentais no primeiro contato, mas ele não é difícil. Diferente do chinês ou do japonês que são muito complexos, a escrita da Coréia tem uma lógica simples. Assim como B + A = BA, lá você junta um tracinho de um jeito com a bolinha embaixo e isso forma um som. Em algumas horas você aprende a ler coreano (fica a dica: entonação diferente = letra e sentido diferente) e mesmo que não entenda a maioria das coisas que consiga ler, algumas coisas vão soar como hamburger, french fries, omelette, pizza, pasta etc. Os coreanos apenas escrevem algumas coisas em inglês no alfabeto deles.
Fica uma última foto, só para descontrair.

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18 Comments
Olhar para o prato da outra mesa e pedir um igual foi uma boa saída, achei muito interessante seu post, não fazia a mínima ideia que na Coréia do Sul se pedia comida dessa forma.
Pois é, Deisy. Nem eu! Fui descobrir só quando cheguei lá. Não são todos os restaurantes que são assim, mas pelo que entendi esses tem um bom custo x benefício. Comida gostosa e preços bons!
Adoro essas suas histórias da volta ao mundo! Não conheço nada de comida coreana mas depois desse post, ja tendo arriscar o mandulguk se precisar! rs
E mesmo com a explicação do alfabeto coreano, ainda acho dificil conseguir entender. E acho que essa cerveja não faria muito sucesso por aqui! kkkkk
hahaahaha….
Eu não entendo muito, mas gosto da comida coreana (pelo menos dos restaurantes que tem no Brasil). Apesar da dificuldade de pedir, não tive nenhum problema para comer por lá (acho que foi um pouco de sorte tbm).
Essa cerveja… hahahaha… que nome, né?
Eu também ri aqui com a foto do cardápio. hahaha imagina o desespero pra comer tendo que escolher coisas que você não sabe o que são! Adorei seu relato e como você foi se adaptando. E realmente, entre chinês, japonês e coreano.. coreano é mais fácil de aprender a ler o alfabeto. Há muitos anos eu fiz um curso pra criança, online mesmo.. e em dois dias eu aprendi a ler o alfabeto coreano (só não sabia o que significava hahaha).. Se eu for pra Coreia um dia, vou ter que dar uma estudada de novo porque já esqueci hihih
Beijos!
Se eu soubesse ler coreano, mesmo não entendendo, já teria me ajudado muito!! hahaha
Fica a lição de casa: fazer um curso online para aprender a ler antes de ir para a Coréia de novo.
Nossa, eu ia ter um treco de olhar pra esse cardápio, hahahaha. Mas as coisas que você escolheu parecem uma delícia pelas fotos! <3
hahahahaa…. algumas vezes acho que foi sorte mesmo.
Não sou especialista, mas gosto muito da comida coreana pelo pouco que conheço. Isso ajuda também!
Hahaha que coisa, menina! Eu ia ficar nervosa e com fome, ou então pediria a igual de alguém também. Minha dificuldade é comer as comidas mais diferentes, mas entrou na chuva é pra molhar, né? Adorei o post!
hahahaha… Nessas horas não tem muito o que fazer, né? Tem que experimentar.
Espero que eu não tenha comido nada de muito esquisito. Melhor nem saber.
Cara, eu nunca estive na Ásia, mas sempre imaginei que comer deve ser um dos grandes problemas, exatamente por isso. Difícil de saber o que está pedindo, de se comunicar, etc. Mas as fotos e olhar o prato do lado realmente são boas saídas. Alias, eu adoro olhar os pratos dos vizinhos antes de pedir comida, mesmo em SP hahaha… Beijos
Quando eu trabalhava em um escritório ao lado de um shopping e já tinha enjoado da praça de alimentação eu fazia isso. Passava entre as mesas olhando os pratos alheios para decidir o que eu ia comer naquele dia.
A comida asiática é bem diferente da nossa. Sou suspeita para falar, eu gosto muito.
Já li muitos críticos dizendo pra fugir de eestaurantes que têm cardápios com fotos ou em várias línguas, mas eles são a salvação pra quem quer matar a fome e não degustar alimentos – quando não sabemos a língua local. Viva o cardápio ilustrado!
Acredito que esses cardápios com várias línguas são de lugares mais turísticos, ou seja, mais caros e adaptados. Tvz não seja uma real experiência local mesmo. Mas quando a comunicação vira barreira, não dá pra negar que tudo isso ajuda demais!
Excelente a dica final sobre o alfabeto. Sou fanática em línguas e vou procurar saber mais sobre o coreano. Acho o chinês super difícil, mas como você falou que ha mais lógica, acho que vale a tentativa. E parabens, voce se virou super bem mesmo sem entender o cardápio de letrinhas 🙂
Virou minha meta pessoal antes de ir para Coréia de novo: aprender a ler coreano, mesmo sem entender nada. É só decorar o som de cada pedacinho, acredito que em poucos dias dá pra aprender sim.
Já o chinês… é outra história. Alguns anos, quem sabe.
aheuahe que fofinha te pegar pela mão pra te mostrar as fotos do banner! acho que se fosse no Japão teria aquelas “esculturas” com a comida montada né? Coréia do Sul tá na minha, mas preciso me preparar mentalmente pra não ficar tão perdida com esse alfabeto haueha
hahaahha… No Japão é mais fácil mesmo. Os cardápios sempre tem fotos e tem essas esculturas mesmo. Além disso, no Japão me sinto mais em casa, conheço a comida e consigo sobreviver arriscando um pobre japonês tupiniquim. Na Coréia nada disso me ajudou. =P
Fica a história para contar!