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De moto na Tailândia

Se você já esteve na Tailândia ou em outro país do sudeste asiático, sabe que motos são comuns. Muito comuns! Provavelmente por ser uma forma mais barata de veículo motorizado, elas estão por todo o lado e carregam tudo o que você imaginar – de famílias inteiras, incluindo 4 crianças mais um bebê, até 4 botijões de gás (não dá pra imaginar, só vendo ao vivo mesmo).

Outra coisa que parece ser regra é que leis de trânsito são praticamente inexistentes. Capacete é artigo decorativo e não é raro ver crianças pilotando, inclusive carregando os irmãos menores. Se tem tamanho suficiente para sentar na moto e colocar o pé no chão, já dá para sair passeando por aí.

Deu pra entender que andar de moto é algo que faz parte do local, né? E os turistas não ficam de fora. Alugar uma delas é algo ridiculamente barato – 2 ou 3 dólares por dia, se souber negociar. Os gringos fazem a festa e andam de norte a sul sobre as 2 rodas motorizadas.

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Até cachorros andam de moto na Tailândia (só pra descontrair. hahaha)

Senta que lá vem história! Lá estava eu na Tailândia, mais precisamente em Chiang Rai, durante a minha viagem de volta ao mundo. Foi lá que combinei de encontrar o Marcio, na época meu namorado, para passarmos uns 20 dias no país. Eu estava chegando de uma viagem de 3 dias de barco de Luang Prabang, no Laos. Ele vinha de uma viagem muito mais longa (mas talvez em menos tempo), saindo de São Paulo.

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O objetivo de estar na cidade era conhecer o Wat Rong Khun, mais conhecido como White Temple, que é lindo e bizarro ao mesmo tempo. Ele é super fotogênico, mas nos detalhes tem muita coisa estranha. Mãos que parecem vir das profundezas do inferno suplicando por ajuda, referências ao horóscopo (lembre que estamos falando de um templo budista e nem inferno, nem horóscopo fazem parte do contexto), cabeças penduradas e quadros com imagens de buda, mas no detalhe, desenhos de Homem Aranha, Kung Fu Panda, Star Wars entre muitos outros (é sério! Não é mentira, só vendo pra crer. Só não tirei foto porque dentro do templo era proibido).

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White Temple, em Chiang Rai

Seguimos para a famosa Chiang Mai e não sei porque nem de onde veio a ideia, mas o Marcio decidiu que queria alugar uma moto. Detalhe: ele nunca tinha subido em uma antes. Eu concordo que é uma forma muito mais fácil e rápida de se locomover e não depender ônibus ou negociar tuk-tuk, mas o trânsito tailandês não é dos mais simples e como eu não sabia pilotar essa ideia nunca foi cogitada por mim. Para ele, parece que não havia qualquer problema.

Ele passou um tempão no celular vendo vídeos de youtube no estilo “pilotando uma moto – for dummies”. O que é que a gente não aprende na internet hoje em dia, não é?

E lá fomos nós para a rua em busca de um lugar que alugasse motos. Não foi nada difícil encontrar.

– A gente queria alugar uma moto.

– Automática ou manual?

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– Automática.

– Eu tenho essa, essa e essa… (inclua aqui explicações sobre valores, horário de devolução, bla bla bla e tudo que não vem ao caso agora).

– Você pode me lembrar os comandos básicos?

– Você já andou de moto alguma vez na sua vida?

– Já, mas faz algum tempo (nessa hora tudo  o que eu me perguntava era porque não falar logo que não sabe e pedir para o cara te ensinar? De qualquer forma, acho que a mentira não foi nada convincente).

– Olha, você não sabe andar de moto e eu não posso alugar para você. O trânsito da cidade é maluco e acidentes não são raros. Se acontecer qualquer coisa, isso vai estragar a viagem de vocês e eu vou ficar sem a moto. É muito risco para mim e eu não trabalho com seguro. O prejuízo é muito grande pra mim e pra vocês.

E assim saímos da loja. Ele frustrado e eu aliviada. Fizemos Chiang Mai da forma tradicional, muita coisa a pé, de songthaew e negociando tuk-tuk. Depois seguimos para Pai.

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Templo Doi Suthep, em Chiang Mai.

A viagem para Pai é daquelas que merece um post a parte na categoria perrengues de viagem, mas vou resumir. São cerca de 4 horas de viagem em uma van apertada na qual ficamos nos bancos do fundo, aqueles que não reclinam. Na nossa frente foram 2 franceses super folgados (a reputação dos franceses é péssima por lá) que fizeram questão de deitar ao máximo o assento deles, nos deixando sem espaço para se mexer. Pedimos para eles levantarem um pouco, mas eles disseram que não entendiam o que a gente estava falando e continuaram lá, praticamente deitados no nosso colo (engraçado que nas paradas eles falavam inglês fluentemente com os outros passageiros). A viagem toda foi uma guerra de segurar os bancos deles com os joelhos para não sermos sufocados. Para ajudar, a estrada é super sinuosa e por vezes eu achei que ia por todo meu almoço pra fora (ia ser na cabeça dos franceses, obviamente).

Enfim, chegamos na cidade. Reservamos um chalézinho que era uma graça, os donos super receptivos, porém não era muito perto do centro. Já estava escurecendo e estávamos com malas, então decidimos por pegar um taxi. E quem disse que encontramos? O máximo que conseguimos foi um moto-taxi, o que eu achei ok desde que fossem 2 (afinal éramos 2 pessoas com malas). Fechamos com os caras e quando olhei para o Marcio e ele fazia uma cara de que não estava entendendo:

– Vamos? Você tem que subir na moto.

– Mas onde eu coloco a minha mala?

– A sua mochila vai nas suas costas

– Oi??

– É assim que funciona aqui. Vamos!

E foi assim que ele andou de moto pela primeira vez. Na garupa e com uma mala de 12kg nas costas. Ele adorou! E voltou a dizer que queria pilotar uma sozinho.

Deixamos as coisas no quarto e fomos até o centro andando para jantar. Foi uma bela caminhada que não estávamos afim de fazer todos os dias para ir e voltar de qualquer lugar. Muito menos pagar taxis ou moto-taxis sempre. Além disso, as atrações de Pai são todas espalhadas, impossível de fazer a pé e não tem transporte público. A opção seria depender de tours organizados com roteiros fechados ou negociar com um taxista o valor de uma diária (na verdade duas, porque tínhamos dois dias na cidade). Foi assim que ele me convenceu que uma moto era uma boa ideia. E de fato era. Até o mocinho do chalé nos recomendou o mesmo.

No dia seguinte pedimos indicação de onde alugar uma e fomos até a loja. Era grande, cheia de turistas e parecia ser bem organizada. Uma pessoa nos atendeu, perguntou que tipo de moto queríamos (eles tinham vespas! Sabe as motinhos italianas? Pena que eram bem mais caras), por quanto tempo e nos passou os valores. Depois nos levou até uma sala para escolhermos os capacetes e nos deu um voucher para retirar a moto. O estacionamento ficava do outro lado da rua.

Dessa vez a gente já tinha combinado dele falar que nunca tinha andado de moto e pedir para alguém ensinar. O mocinho que pegou o papel trouxe a moto e me pediu para ficar esperando na loja. O Marcio subiu na garupa e saiu com ele. Voltaram uns 15 ou 20 minutos depois. Ele disse que teve uma aula básica e que já sabia o que fazer. Foi a aula mais rápida que eu já vi na vida. hahahah.

Subi na garupa e lá fomos nós! No começo meio cambaleando, meio engasgando, mas fomos. No fim do dia ele já pilotava como se fosse algo que fazia há anos. Conhecemos muita coisa dos arredores da cidade, do nosso jeito e no nosso tempo. Fomos para o chalé para tomar um banho e voltamos para o centro para jantar. A moto nos deu autonomia e liberdade para fazer o que queríamos, foi a melhor coisa que fizemos.

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Mirante, em Pai

Destaque para o momento em que ele falou “precisamos abastecer e não vi nenhum posto de gasolina por aqui”. E não tem mesmo. Eu já estava há algum tempo pelo sudeste asiático e já tinha andado de moto por lá (sempre na carona), então sabia como as coisas funcionavam. Procure pelas ruas algum lugar que tenha uma estante precária na porta, cheia de garrafas PET com um líquido amarelo ou verde radioativo. É assim que a gasolina é vendida. Eles até  te emprestam um funil para encher o tanque.

Voltamos para Chiang Mai na mesma van apertada e na estrada sinuosa, mas sem franceses dessa vez. Também fui mais esperta e tomei um dramin antes de sair, então não enjoei e dormi o caminho todo. No outro dia fomos para Sukhothai, a antiga capital da Tailândia. A ideia era conhecer os templos e ruínas do Parque Histórico de Sukhothai, que também ficam espalhados e a 10km da cidade. Não tivemos dúvidas, alugamos uma moto para o dia.

Saímos cedo e no meio do caminho o Marcio disse que a moto estava um pouco estranha, mas seguimos em frente. Quando chegamos no parque, a moto começou a engasgar. Eu pulei pra fora e segundos depois os dois – a moto e o Marcio – foram pro chão. Em instantes um monte de gente que eu nem sei de onde surgiu apareceu para ajudar e perguntar se estava tudo bem, mesmo sendo todos locais e nenhum deles falando inglês. Ajudaram a levantar a moto (e o Marcio), a limpar a terra que ficou no banco e quando viram que não tinha sido nada grave, eles voltaram aos seus afazeres. Os tailandeses são assim. <3

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Parque Histórico de Sukhothai

Voltamos para a cidade, pedimos para trocar de moto e seguimos novamente para nosso destino do dia. Conhecemos o parque todo, que é incrível, e voltamos para o centro. Ainda tínhamos o resto da tarde livre antes de irmos para rodoviária pegar o ônibus para Bangkok. Não tínhamos nenhum plano e o Marcio me perguntou se eu queria aprender a pilotar a moto. Por que não?

Fomos procurar um lugar vazio e com espaço. Encontramos uma rua sem movimento e lá ele me ensinou o básico. Andar em linha reta até que não era difícil, o problema era fazer as curvas.

Apareceram 2 homens que ficaram conversando na rua e assistindo o desastre das minhas primeiras tentativas na moto. De repente, um deles foi falar com o Marcio e começou a apontar para o final da rua. Achei que ele estava expulsando a gente de lá, quando o que ele queria era mostrar que tinha um terreno com muito mais espaço para eu treinar. O lugar estava cheio de mato, de pedaços de madeira e outros obstáculos e ele limpou tudo para facilitar minha vida. (tailandeses <3 )

Enquanto eu andava em círculos, o Marcio ficou no maior papo com o moço. Aprendeu a contar até 10 em tailandês, descobriu que ele era motorista de tuk-tuk e negociou nosso transporte do hostel para a rodoviária (não me pergunte como eles se entenderam, porque ele não falava uma palavra de qualquer idioma que a gente soubesse). Ainda voltei pilotando com ele (o Marcio) na garupa para devolvermos a moto, fecharmos as malas e partir. E o mocinho foi seguindo a gente no tuk-tuk e até me deu parabéns por ter levado a moto direitinho. hahaha.

Não posso dizer que sei andar de moto com segurança, faltou prática, mas já foi uma experiência. Fica a dica para quem for para lá: vale a pena. Melhor ainda se souber como fazer antes, mas dá para ter uma aula de 15 minutos e aprender na prática. Ah, a nossa carteira de habilitação não foi pedida em momento algum (mas é sempre bom ter a internacional. Vai que… né?)

 

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