Como é dormir em um hotel cápsula no Japão

Hotel cápsula no Japão. Já ouviu falar, né? E aposto que surgiram um monte de dúvidas e até uma possível repulsa de dormir em um lugar desses. O Japão tem suas coisas estranhas mesmo, e aqui estamos para desvendar todos os segredos de passar uma (ou umas) noites dentro da cápsula.
Já tinha ido para o Japão quatro vezes e nunca tinha tido essa experiência. Na quinta vez isso não podia passar. Já era uma curiosidade antiga. Fiquei duas noites para conhecer e conto aqui como foi. Ressalto que este não é um post patrocinado. Eu paguei pela minha estada e as opiniões aqui relatadas são baseadas na minha experiência no local.
Antes, um pouco de contexto
O Japão tem cultura, hábitos, geografia e pessoas diferentes do Brasil (e de qualquer outro lugar do mundo). E o que isso tem a ver com o hotel cápsula? Tudo!
Começando pelo que é o mais fácil de entender. O Japão é um conjunto de ilhas de terreno acidentado e com uma das maiores populações do mundo (11º lugar). Isso significa que há um problema de espaço físico bastante limitado, o que não é grande novidade para ninguém. Coisas compactas, incluindo acomodações, é algo bastante comum por lá. E não é difícil chegar a conclusão que quanto menor, mais cabines, mais gente acomodada, mais dinheiro entrando.
Os japoneses têm uma cultura de bebidas, que não vou entrar em detalhes neste momento, mas para resumir: quando saem para beber, eles bebem de verdade! Talvez a ponto de perder o último trem ou de não conseguir (ou querer) voltar para casa.
Então, os kapuseru hoteru, como são chamados no Japão (capsule hotel, do inglês, lido da forma japonesa) surgem, no fim da década de 70, como uma opção prática e barata para aqueles que extrapolam nas bebedeiras ou no horário. Vale ainda mencionar que essa cultura de beber se aplica mais para homens, por isso é ainda comum encontrar hotel cápsula que não aceita mulheres.
Leia também: 10 coisas que você precisa saber antes de ir para o Japão
Com o tempo, esse modelo acabou se tornando uma atração para os turistas curiosos, que queriam saber como era dormir em uma cápsula. Hoje, existem locais nesse formato de acomodação espalhados pelo mundo, alguns conhecidos como Pod Hotels (não exatamente as cápsulas japonesas, mas com conceito muito parecido).
Outra observação válida é que os hotéis cápsula foram feitos para os japoneses que, em sua maioria, por genética e cultura, são pequenos e magros. Pessoas muito altas e/ou obesas podem não ficar muito confortáveis. #ficaadica
Como é se hospedar em um hotel cápsula no Japão?
Começo dizendo que eu gostei da experiência e ficaria novamente. Mas não é uma opção de hospedagem para todos os momentos. Entenda mais abaixo.
Eu fiquei no do-C Ebisu, nos arredores do bairro de Shibuya, em Tokyo. Para contextualizar, eu estava com uma mala de rodinha e uma mala de mão, também de rodinhas. São dois lances de escadas para chegar na recepção, tirando isso, o prédio tem elevador que atende todos os andares. Veja que os andares são separados em feminino (W) e masculino (M).
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Fiz o check in e, pelo modelo de negócio desse tipo de hotel, os pagamentos são feitos na entrada e para o dia. Como fiquei dois dias, o pagamento da segunda diária eu tive que fazer no dia seguinte.
Durante o check in o atendente me deu as explicações principais, me entregou a chave e uma sacola com: toalha, escova e pasta de dente, chinelo descartável, uma calça e uma camiseta. Acho que por esse kit já deu pra entender que eles tem estrutura para aquelas pessoas que falei lá no começo, que não vieram preparadas para dormir fora de casa.
Espaço para as malas
Há um espaço separado em cada andar para guardas as malas. As malas de mão, bolsas e objetos de valor podem ficar dentro do armário trancado com chave. As malas maiores ficam nas prateleiras ou no chão. No fim do corredor (da foto abaixo) ficam os banheiros (só privadas e pias, os chuveiros ficam em outro andar).

Já fica aqui uma dica valiosa: esse lugar não foi feito para mala grande. Pela foto já dá pra ver que não tem espaço para abrir a mala e cada vez que eu fazia isso, ninguém mais passava nesse corredor. A verdade é que hotel cápsula é para estadias curtas, ou seja, pouca bagagem (ou nenhuma, se considerarmos o propósito inicial dele).
A cápsula por dentro
Você não vai querer acreditar, mas a cápsula é espaçosa. Dá tranquilamente para sentar e levantar os braços (no meu caso, que não sou alta). Se você já dormiu no andar debaixo de uma beliche, te digo que não dá nem pra comparar: a cápsula é muito melhor. Agora, se você tem claustrofobia, eu diria que não é o lugar mais recomendado.

A cápsula tem o que você precisa para a noite. Lençóis, coberta e travesseiro limpinhos, luz, tomada para carregar o celular (ou outros eletrônicos), ventilador (ou ar condicionado? Só sei que nas duas noites eu acordei para desligar porque passei frio), uma prateleira para organizar suas coisas e até um espelho.
Não dá para ver nesta foto, mas há um espaço para uma TV. No caso, não tinha nada nessa cápsula que eu fiquei (e não sinto falta, porque eu não vejo TV), mas muitos lugares tem a telinha para você assistir até pegar no sono. Importante: tem wi-fi de qualidade que funciona em todos os andares do hotel. Esse sim me faz uma falta danada quando não tem.

O lado de fora da cápsula é como se fosse um corredor cheio de beliches, porém com muito mais estrutura e privacidade. Cada cápsula tem uma cortina que você pode fechar na hora de dormir, assim ninguém vai ficar te olhando.
Por ser um espaço compartilhado com outras pessoas, a regra é não fazer barulho neste lugar. Conversas, inclusive por telefone, devem ser feitas nos espaços públicos. Uma vez no Japão, você logo vai perceber que isso é uma regra da sociedade e não apenas do corredor de um hotel cápsula. É um país um tanto quanto silencioso.
Também não é recomendado comer dentro das cápsulas, por motivos óbvios de manter o local limpo.

E o banheiro?
Se você já se hospedou em qualquer lugar que tenha banheiro compartilhado, aqui não tem novidade. Como já disse mais pra cima, no final do corredor das malas tem alguns banheiros (privada e pia).
No do-C Ebisu há andares só para banho e sauna (sim, sauna! Esse é um diferencial desse hotel. Nem todos os hotéis cápsula tem). Obviamente, os andares masculinos e femininos são separados.
A cabine de banho é individual, super organizada e limpa. Bem pequenininha, sim, mas tem um espacinho pra tudo. Prateleiras para organizar as roupas e outros pertences. E até um local (essa caixa com porta de plástico) para deixar as coisas que não podem molhar ou cair (celulares e afins).

Sabonete, shampoo e condicionador não são preocupação (no Japão todo). Potes enormes com produtos de alta qualidade estão ali disponíveis para você usar o quanto quiser. E não há cabelos iguais aos que são lavados com água e cosméticos do Japão (pelo menos o meu tem outra vida por lá).
Essa roupinha lindíssima que está na minha foto (dentro da cápsula com os braços levantados) e o chinelo fazem parte do kit que é entregue no check in e devem ser usados dentro do hotel. Não importa se para dormir, no elevador, na recepção ou nas áreas comuns. Todo mundo anda vestido igual lá dentro.
Leia também: Roteiro de 15 dias no Japão
Faz parte da cultura japonesa não usar as coisas “contaminadas da rua” dentro de casa. Um exemplo fácil de entender é ter que tirar os sapatos em vários lugares e usar pantufas específicas no lado de dentro. Se você for em um ryokan (hotéis típicos japoneses) vai ver que acontece o mesmo (mas vai receber um yukata em vez dessa roupa bonita).
Ainda está difícil de visualizar tudo?? Então dá uma olhada nessa sequência de stories, que eu fiz quando me hospedei no do-C Ebisu.
FAQ – Hotel cápsula no Japão
É como se hospedar em um hostel?
Não exatamente, mas há algumas semelhanças. O preço é bem parecido, então é uma boa opção para quem busca algo que pese menos no orçamento. A parte de compartilhar banheiros e outros espaços também é igual. Em termos de privacidade, acho que o hotel cápsula é um pouco mais privativo por ser mais fechado (depende com que tipo de hostel é feita a comparação).
Para mim, a principal diferença é a interação entre os hóspedes. Os hostels tem um ambiente que proporciona conhecer gente nova, interação, programação etc. O hotel cápsula, até pelo motivo que foi criado, não tem isso e fica cada um na sua bolha particular mesmo.
É desconfortável, barulhento ou sem privacidade dividir o espaço com outras pessoas?
Sinceramente, eu não achei. Pode ser sorte por não ter pessoas que roncavam no quarto. Pode ser por eu estar bem acostumada a ficar em hostel e a dividir quartos e banheiros. Como já disse ai pra cima, eu achei confortável e ficaria de novo.
É importante alinhar expectativas. Não adianta ficar em um lugar assim esperando o espaço, a privacidade e os serviços de um quarto hotel. A proposta aqui é outra.
Tem mais dúvidas? Deixe nos comentários que eu vou completando essa lista. =)
Mais opções de hotel cápsula no Japão
Em Tokyo:
Nine Hours Shinjuku-North – Nine hours é uma rede de hotel cápsula no Japão e Shinjuku é um excelente bairro para se hospedar.
Nihonbashi Muromachi Bay Hotel – No coração de Tokyo e com uma decoração mais tradicional, sem perder a modernidade que você espera do Japão.
MyCUBE by MYSTAYS Asakusa Kuramae – Uma ótima opção para quem está preocupado em achar as cápsulas muito pequenas. Aqui os módulo são bem mais espaçosos.
Em Kyoto:
Glansit Kyoto Kawaramachi – a tradicional versão de um hotel cápsula no Japão, para uma experiência como manda o roteiro.
The Millennials Kyoto – a versão cool, jovem e moderna de se hospedar em um hotel cápsula. O teto é alto, sem sensação de claustrofobia.
Capsule Hotel Anshin Oyado Premium Resort Kyoto Shijo Karasuma – uma cápsula para dormir e estrutura de spa para aproveitar. Tem sauna, banheira de hidromassagem e uma decoração maravilhosa!
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17 Comments
Muito legal seu post, bem explicadinho e acho que num momento de aperto, eu me daria bem em um hotel capsula.
Gostei da comparação que fez com hostel!
Mirella,
Acho que vale a experiência!
É tudo muito bem organizado e limpinho. Só senti falta dessa parte mais de interação que os hostels tem e no hotel cápsula não, mas não é o propósito deles mesmo.
Acho que não encaro, tenho a impressão de que sentiria um pouco de claustrofobia e saber que não tem porta apenas uma cortina fico bem desconfortável. Mas pelo que vi você se adaptou muito bem, vai de cada um né?
Não é um local indicado para quem tem claustrofobia. Acho que a porta no lugar da cortina ia piorar ainda mais essa sensação.
Imagino que o espaço interno seja mais ou menos parecido com o da minha barraca individual de acampar. Eu me hospedaria de boa, e as opções que você indicou parecem ótimas! Valeu!
Camila,
Se vc está acostumada com camping, hotel cápsula vai ser uma mordomia! Tem tomada, ventilador…
hahahah
Deu saudades dos acampamentos que eu fui.
Eu tenho muita vontade de ter essa experiência, deve ser incrível. Eu já passei pelo Japão, mas com certeza é um destino que merece muito mais atenção.
obrigada por compartilhar sua experiência
beijos
Olívia,
Se vc tem vontade, não deixe de passar um dia no hotel cápsula na próxima vez que for ao Japão.
Acho que é uma experiência local que vale ter!
gente do ceuuu dormir numa capsula no japão é um dos meus sonhos ahuehaue eu já fui em uma num hostel em Zagreb, mas era bem maior e quadradona assim, parecia até meio requintada haha
hahahahaa… Eu te entendo, pq tinha tempo que eu queria fazer isso também!
Esse estilo de hospedagem se espalhou pelo mundo. Fiquei em algo semelhante em Vitória – ES. Não era exatamente uma cápsula, mas lembrava bastante.
Muito interessante esse hotel cápsula
Diferente do que temos no Brasil, né? =)
Em relação aos valores, é verdadeira a informação sobre os preços impostos aos japoneses serem mais econòmcos que os cobrados aos estrangeiros?
Luis
Não tenho informações sobre isso. Me desculpe.
Olá ! Minha dúvida seria a seguinte: Existe ”capsulas” para casais ? Como os casais se hospedariam nesse tipo de hotel ? Cada um no seu quarto e tb na sua capsula ?
Mt obrigado !!
Juliano
Dos lugares que vi ou pesquisei, as cápsulas eram sempre individuais. E boa parte dos lugares são separados em masculino e feminino, ou seja, o casal ficaria separado.
Talvez não seja a melhor opção para uma viagem em casal.
Que bacana