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Escalar o Monte Fuji – o que você precisa saber

Escalar o Monte Fuji é, sem dúvidas, uma experiência que fica para a vida toda. Um dos ícones do Japão, cartão postal mundialmente famoso. Se ver o Fuji-san compondo a paisagem já é lindo, imagina a emoção de estar nele?

São 3776m acima do nível do mar, o ponto mais alto do Japão, localizado na divisa das províncias de Shizuoka e Yamanashi e não tão longe de Tokyo. O Fuji é considerado um vulcão ativo, apesar de sua última erupção ter sido no século XVIII.

Subir ou não o Monte Fuji?

Eu diria que não é uma experiência para todos. Mas é possível para todos que querem. É fisicamente desgastante sim, mas não é impossível subir.

Precisa de preparo físico?
Todo o preparo que você tiver conta a favor, mas não é algo que impeça as pessoas menos preparadas de escalar o Monte Fuji. Eu subi em uma das fases sedentárias da minha vida (é claro que a experiência de outras trilhas não pode ser descartada) e cheguei no topo. Foi difícil, eu admito, mas acredito que esses desafios são mais mentais que físicos. A mente controla o corpo e não o contrário.

Posso subir sozinho(a)?
Não vejo problema! A trilha é super bem demarcada, não tem risco de se perder. É cansativo, mas não é uma trilha técnica que exige experiência ou equipamentos. É basicamente uma caminhada nas pedras e para cima, com algumas partes que escorregam um pouco. Tem muita gente pelo caminho, então você nunca estará, de fato, sozinho(a). E se algo acontecer, com certeza terá alguém por perto para te ajudar.
Se preferir ir em grupo, há agências que organizam as subidas com guias.

Dormir ou não dormir?
É possível subir uma parte do caminho durante o dia, dormir um pouco em uma das cabanas e seguir pela madrugada para ver o sol nascer lá do topo. A grande vantagem é que você fará a segunda parte da subida com as energias renovadas, porém isso envolve mais tempo e mais dinheiro. Se optar por dormir, é importantíssimo fazer uma reserva com antecedência.
Eu optei por subir tudo de uma vez, sem parar para dormir.

Vale a pena?
Isso vai variar de pessoa para pessoa, mas minha opinião é que escalar o Monte Fuji vale muito a pena! É cansativo, é muito turístico, tem muita gente, faz frio, mas é uma experiência única. Mais pra baixo eu conto minha experiência e sentimentos.

Atrás de mim, a cratera do Monte Fuji. Missão cumprida!
Atrás de mim, a cratera do Monte Fuji. Missão cumprida!

Melhor época para escalar o Monte Fuji?

Há uma temporada oficial em que as trilhas para subida do Fuji estão abertas para todos que quiserem se aventurar. É só chegar e subir, sem a necessidade de registros, permissões ou qualquer burocracia.

A temporada varia de acordo com a trilha, mas no geral é do começo de julho até meados de setembro. Há alguns fatores que devem ser levados em consideração se você tiver flexibilidade para escolher a data.

  • A época de chuvas do Japão termina em meados de julho, então há grandes chances de pegar um tempo ruim se você for no começo da temporada. Confira a previsão do tempo.
  • Fim de julho e praticamente todo o mês de agosto é o período de férias de verão no Japão, então é bem provável que as trilhas estejam mais cheias nessa época.
  • No meio de agosto tem o feriado do Obon e esse é, provavelmente, o período com mais gente nas trilhas.
  • Setembro é o início da época de tufões. E acredito não ser uma boa ideia subir uma montanha com ventos fortíssimos e grande chance de chuva. Confira a previsão do tempo.

Ou seja, não há um período ótimo. Se conseguir fugir dos finais de semana pode ajudar um pouco a evitar multidões.

Vale lembrar que o Japão é um país que está sujeito a todo tipo de desastre natural. Eles são super preparados para conviver com eles, mas com a natureza não dá pra brincar assim. Veja a previsão do tempo e se informe antes de ir.

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Apesar de não recomendado, é possível escalar o Monte Fuji fora de temporada (apenas pessoas com experiência de montanha). Como as condições climáticas não são muito estáveis e pouco favoráveis (muito mais frio, ventos mais fortes, possibilidade de neve e risco de avalanches) é necessário pedir uma autorização especial e ter os equipamentos de escalada ou contratar um guia especializado. A estrutura fica bastante reduzida, nem todos os serviços da trilha estão funcionando e inclusive o transporte público para a 5ª estação pode não estar disponível.

Qual trilha escalar o Monte Fuji?

São 4 possibilidades de trilhas para a escalada do Monte Fuji. Cada uma parte de um ponto diferente da montanha e todas elas terminam na cratera. Todas as trilhas são divididas em 10 estações (da base ao topo) e é possível ir de ônibus até a 5ª.

Yoshida
Essa foi a minha opção (pela localização). É a única que começa na província de Yamanashi (todas as outras começam de Shizuoka), o que significa acesso mais fácil partindo da região de Tokyo.
A 5ª estação fica a 2305m e para quem quer dormir há muitas opções de cabana. Uma grande vantagem é que ela fica do lado que o sol nasce, então você não perde o espetáculo mesmo que não chegue no topo a tempo.

Subashiri
A 5ª estação fica mais baixa, a 1950m (são 400m a mais de desnível e isso é bem considerável). Na 8ª estação ela se junta à Yoshida e isso explica o grande aumento na quantidade de pessoas a partir deste ponto.

Gotemba
É a trilha com a 5ª estação mais baixa, a 1400m, o que a torna a opção de caminhada mais longa. A estrutura de cabanas é mais reduzida também.

Fujinomiya
Tem a 5ª estação mais alta de todas, em 2400m, e é a trilha mais curta. A vista para o nascer do sol só é possível na cratera e o caminho para subida é o mesmo da descida (o que pode causar um congestionamento de pessoas).

Trilha Yoshida, 7km de subida em zigue-zague.
Trilha Yoshida, 7km de subida em zigue-zague.

Como chegar no Monte Fuji?

O trajeto vai depender do seu ponto de partida e de qual trilha você optar por fazer.

Para trilha Yoshida, partem ônibus diretos da estação de Shinjuku (em Tokyo). Ou você pode ir de trem até a estação Kawaguchiko e de lá pegar um ônibus para a 5ª estação.

Quem opta pelas trilhas Subashiri ou Gotemba, precisa chegar de trem em Gotemba Station e pegar o ônibus para a 5ª estação. Já o ônibus para trilha Fujinomiya partem da estação de trem Shin-Fuji.

É importante estudar o caminho para calcular o valor e o tempo de viagem e programar o seu horário de chegada para começar a trilha.

Estação de trem de Kawaguchiko.
Estação de trem de Kawaguchiko. Apenas 2 plataformas.

O que levar para subir o Monte Fuji?

O Monte Fuji é uma montanha e elas sempre são meio imprevisíveis. Como a caminhada é longa e cansativa, a dica é subir leve, mas sem deixar o necessário para trás.

Não se engane pelo calor quase insuportável que faz no Japão durante o verão. Faz muito frio na subida e ao chegar na 5ª estação você já vai perceber que a temperatura é outra. O mais indicado são roupas de trilha, que são mais leves, resistentes e apropriadas para isso, naquele esquema cebola – vai vestindo por camadas, na medida que for necessário. Corta vento, fleece e segunda pele são fundamentais para as partes mais altas. Se você não tiver essas roupas, pode substituir por moletom ou similares (mais pesados e menos efetivos, porém) ou pode alugar (em Kawaguchiko tem loja de venda ou locação de equipamentos). Para quem sente mais frio, gorro, cachecol e luvas ajudam muito também (eu não usei, mas eu não sou exatamente a pessoa que sente muito frio). Espere temperaturas próximas de zero no topo.

Leia também: O que comer no Japão?

Outro item muito importante é o sapato. Botas de trilha são altamente recomendadas porque o terreno não é dos mais gentis. Pedrinhas que escorregam ou pedronas que precisam ser escaladas. Um tênis comum dá conta do recado sim, mas há grandes chances dele voltar bem detonadinho dessa aventura.

O bastão de caminhada me ajudou muitíssimo! Tanto na subida quanto na descida. Você pode usar aqueles próprios para trilha ou comprar um que vira uma bela recordação depois. É um bastão de madeira que você vai carimbando conforme vai passando nas estações (todos os carimbos são pagos). A dica é comprar na cidade, que é mais barato (eu comprei em Kawaguchiko). Tenha em mente que ele não cabe na mala e é preciso enviar por correio de volta pra casa ou cortá-lo no meio para trazer (eu cortei o meu).

Meu bastão de caminhada, e alguns dos carimbos adquiridos pelo caminho.
Meu bastão de caminhada, e alguns dos carimbos adquiridos pelo caminho.

Se você pretende subir durante a noite, ter uma lanterna de cabeça é importantíssimo! O caminho é bem demarcado, mas não iluminado. E tem que ser de cabeça para ficar com as mãos livres. Certifique-se de que a potência é suficiente para atividades noturnas outdoor e que a bateria vai durar o tempo todo.

Com o clima adverso da montanha, também é bom estar preparado para todos os climas. Tenha uma capa de chuva (para você e para sua mochila), protetor solar e óculos escuros (o sol é cruel na volta). Usei o protetor de pescoço para proteger a boca e nariz da poeira que sobe durante a descida (ou uma máscara, daquelas que os dentistas usam, também ajuda). Tem quem leve latinhas de oxigênio devido à altitude, mas eu sinceramente acho desnecessário (pode ser útil depois dos 5 mil metros, mas estamos falando de um máximo de 3776m.).

Leve toda comida que você vai consumir. Coisas leves, de consumo rápido e que dão energia e sustância – sanduíches, onigiri, chocolates etc. É só passar em um konbini e fazer as compras antes de ir (tem um pertinho da estação de Kawaguchiko). Na 5ª estação não tem konbini (tem restaurantes, mas comida para carregar muito pouco – caixas de doces e coisas do tipo só. Tem nikuman, ele só vai ficar gelado para comer no caminho). Leve também a água que você vai beber (fui com 2 litros e deu certinho, o último gole no final da descida. Mas isso depende de cada um). Dá pra comprar durante a subida, mas os preços são inflacionados. Água na 5ª estação já é mais cara que o normal e no topo o preço é 6x maior. Comida vendida durante o caminho basicamente se resume a cup ramen (aquele macarrão no copo de isopor que você coloca água quente e espera 3 minutos).

Leve dinheiro (cartão de crédito não funciona); documento; bateria para carregar seu celular porque, obviamente, não tem tomada no meio da trilha. Se tiver um IC card (o cartão de transporte do Japão – Suica ou Pasmo) ajuda nos trens, mas não é obrigatório (ele não vale para a passagem de ônibus até a 5ª estação).

A 5ª estação da trilha Yoshida, também chamada de Fuji Subaru Line.
A 5ª estação da trilha Yoshida, também chamada de Fuji Subaru Line.

Quanto custa escalar o Monte Fuji? 

Teoricamente, nada. Não há custo para entrar, mas tem outras coisinhas que acabam somando um valor considerável. Não é uma viagem barata.

Na 6ª estação eles fazem o pedido de uma contribuição de 1.000 ienes (cerca de 10 dólares) destinada para a preservação, segurança e infraestrutura do local. Não é obrigatório pagar, mas a doação é sempre bem-vinda.

O transporte para ir e voltar é uma das partes mais caras. Trens e ônibus são extremamente bem organizados no Japão e é possível se planejar com horários e valores com antecedência. O valor varia conforme o local de partida.

Se você decidir pernoitar em uma das cabanas que tem pelo caminho, há um valor extra (a partir de uns 5 mil ienes – 50 dólares). Reservas antecipadas são altamente recomendadas.

Há comidas e bebidas durante a subida (vendidas nas cabanas), mas espere itens muito simples e com preços elevadíssimos. O uso de banheiro também é pago (200 – 400 ienes) e tem lugares que você coloca as moedas em uma caixa fechada, ou seja, não tem troco. Se quiser carimbar o bastão de caminhada, espere pagar entre 300 e 500 ienes por carimbo. Tenha dinheiro trocado e moedas de 100 ienes para o banheiro.

Sopa de milho na latinha. Confort food e recompensa por ter chegado no topo.
Sopa de milho na latinha. Confort food e recompensa por ter chegado no topo.

Minha experiência subindo o Monte Fuji

Começo dizendo que não foi fácil subir o Monte Fuji, mas valeu cada segundo. Essa era uma das metas da minha volta ao mundo, em 2014, que foi adiada pela chegada de um tufão no dia que eu planejava subir. No meu retorno ao Japão, em 2019, não podia deixar passar a oportunidade.

Brasileiros na 5ª estação. Começamos juntos, mas terminamos cada um em um tempo diferente.
Brasileiros na 5ª estação. Começamos juntos, mas terminamos cada um em um tempo diferente.

Optei pela trilha Yoshida e sai de Yokohama, cidade onde eu estava hospedada, por isso não segui pelo trajeto de ônibus que sai de Tokyo. Foram 3 trens até Kawaguchiko:
– Sakuragicho para Hachioji (Negishi Line – cerca de 1 hora)
– Hachioji para Otsuki (Chuo Line Express – cerca de 30 minutos)
– Otsuki para Kawaguchiko (Fujikyuko Line – 50 minutos)

Contando com o tempo de espera para as trocas de trem, foram mais ou menos 3 horas de viagem. De Kawaguchiko, peguei o ônibus para a 5ª estação (mais 50 minutos). Meus gastos só com transporte ida e volta (3 trens + 1 ônibus por perna) foi de aproximadamente 8 mil ienes (80 dólares).

A subida começou nos 2305m e junto com o por do sol, às 18h40. Passei pela 6ª estação, onde eles pedem a doação e segui em direção à 7ª estação (altitude de 2700m). Cheguei às 20h15 e até esse ponto a caminhada foi bem tranquila, apesar da temperatura já ter caído bastante e estar bem escuro. Comecei a tirar as blusas de dentro da mochila.

O por do sol marcou o começo da escalada do Monte Fuji.
O por do sol marcou o começo da escalada do Monte Fuji.

Não sei dizer se foi a altitude ou o sedentarismo, mas o caminho até a 8ª estação (altitude de 3100m) foi bem cansativo. Parei algumas vezes no meio do caminho para descansar e cheguei às 22h36. A oitava estação parece ser infinita. É uma sequência de cabanas seguidas quase sem fim (ou minha ansiedade de chegar na próxima estação logo).

A quantidade de pessoas na trilha aumentou absurdamente a partir daqui (acredito que por ser o ponto que as trilhas Yoshida e Subashiri se juntam), a ponto de limitar a velocidade de caminhada (não que eu fosse andar muito mais rápido do que aquilo). Parecia estrada em fim de feriado, em que você vê os faróis daquela fila de carros sem fim (neste caso, troque os faróis pelas lanternas de cabeça).

Meu nível de cansaço ao sair da última cabana da 8ª estação era altíssimo. Acho que uma mistura do esforço físico, com altitude e com o horário da madrugada. Eu estava pescando enquanto andava. Cheguei na estação 8,5 e procurei um cantinho em que batia menos vento. Sentei no chão, encostei na parede e dormi. Não faço ideia de que horas eram isso e nem por quanto tempo eu fiquei lá.

Em algum lugar entre a estação 9 e 10. As casinhas lá embaixo fazem parte da estação 8,5 e a 9ª estação é apenas um toori que está bem discreto na foto.
Em algum lugar entre a estação 9 e 10. As casinhas lá embaixo fazem parte da estação 8,5 e a 9ª estação é apenas um toori que está bem discreto na foto.

Acordei com frio. Pelo celular, faziam 9 graus, mas a sensação térmica acredito ser menos porque venta bastante. Parei para colocar a calça térmica (fica a dica: tudo é muito cheio e os banheiros são pagos. Eu fui com um shorts pra poder tirar uma calça e vestir outra em lugares públicos mesmo).

Com as energias um pouco recuperadas, segui andando. Impossível ganhar velocidade com a quantidade de gente que tinha, o jeito era subir devagar e sempre. Cheguei na 9ª estação por volta das 4h da manhã. O dia estava começando a clarear e o nascer do sol estava previsto para às 4h30 (pelo celular). Eu conseguia ver a 10ª estação poucos metros acima. Decidi tentar andar um pouco mais rápido para chegar no topo a tempo, mas impossível com tanta gente no caminho.

Parei em um ponto excelente, entre as estações 9 e 10, para ver o sol nascer. Foi lindo e emocionante ficar ali admirando aquele espetáculo. Neste momento, tive certeza que cada passo e todo o cansaço valeu a pena.

Ainda era preciso terminar a subida até o topo. Mesmo depois do nascer do sol tinha muita gente pelo caminho. Segui no ritmo devagar e sempre. Na entrada da 10ª estação tem um toori de pedra, um símbolo da religião xintoísta que marca a entrada de lugares sagrados. Claramente, eu estava entrando em um lugar especial.

A entrada da 10ª estação, lugar especial marcado pelo toori e pelos koma-inu de pedra.
A entrada da 10ª estação, lugar especial marcado pelo toori e pelos koma-inu de pedra.

Fora a parte mais comercial e turística que existe lá em cima (venda de chaveirinhos, lembrancinhas etc), tem uma cabana que vende comida (cup ramen, sopa e bebidas enlatadas. Não espere muito mais que isso) e o banheiro mais fedido do Japão (e paga-se caro pra usar – 400 ienes, mais ou menos 4 dólares). Parei em um lugar para pegar o último carimbo para o meu bastão, aparentemente o mais importante, pois parecia ter um vínculo religioso. Diferente dos outros que são queimados, esse é literalmente martelado no bastão e pintado (eles orientam não encostar por alguns minutos para a tinta secar). Também ganhei do senhor um amuleto.

Segui em direção à cratera. É possível andar por toda sua borda, cerca de 1 hora de caminhada, mas eu não fui. Passei essa 1 hora sentada lá, olhando para aquele buraco e tentando entender o que significava estar naquele lugar. Mais que a superação física e a sensação de missão cumprida, era concluir uma meta de 2014 que tinha ficado pendente. Era estar no topo do país que carrega metade da minha história.

Uma das bases da cultura japonesa é o xintoísmo. Nessa religião, os deuses são representados por formas da natureza – rios, pedras, animais, montanhas… O próprio Fuji-san é considerado uma representação de um dos deuses. As montanhas também são sagradas por serem pontos altos que fazem a conexão do céu com a terra e é por elas que os deuses chegam ao nosso mundo. E eu estava lá, no ponto mais alto de uma montanha sagrada. Certamente, aquele toori de pedra marcava a entrada de um lugar especial. Eu tenho agora a proteção dos deuses do Fuji-san.

Foram 10 horas para subir 7km. Parece até ridículo tanto tempo para uma distância dessas. Considere nessa conta os 1471m de desnível, o frio, a altitude, a subida noturna, a enorme quantidade de gente na parte final e o meu sedentarismo do momento (confesso que já tive fases melhores). Eu parei muitas vezes para descansar e uma vez para dormir. É possível fazer em menos tempo.

A descida é cruel. Inclinadíssima, cheia de pedrinhas que derrapam o tempo todo em um zigue-zague que não termina nunca e com o sol queimando a cara. É comum ver pessoas escorregando e as pedrinhas machucam sem dó. Além disso, como algumas pessoas descem rápido a poeira sobe muito. Tenha algo para se proteger ou prepare-se para comer terra. Ah, é preciso prestar atenção no caminho, pois há uma bifurcação que leva para a trilha Subashiri e você pode parar na 5ª estação errada.

Levei 3 horas para completar a descida. Peguei o ônibus lotado e passei os 50 minutos em pé, mas dormindo (é possível dormir em pé em um ônibus em movimento!) para voltar para Kawaguchiko. E dormi nos 3 trens até Yokohama.

Se eu me arrependo de ter feito tudo isso? Nem um pouco. Foi uma experiência incrível!
Faria de novo?? Veja bem… Diz a lenda japonesa que as subidas devem ser em números ímpares (1, 3, 5…), então se eu subir a segunda vez, preciso garantir a terceira depois.

Dicas para subir o Monte Fuji

Planeje-se
Escolha sua trilha, prepare sua mochila com tudo o que precisa para escalar o Monte Fuji, confira a previsão do tempo e estude o caminho para chegar. Calcule o tempo de viagem e de subida, com folga. Leve comida e prepare-se para o frio. Um bom planejamento é o segredo para você aproveitar melhor essa experiência.
Vale ler os depoimentos de outras pessoas que também escalaram o Monte Fuji:
https://www.turistandocomalu.com.br/monte-fuji-japao/
http://peachnojapao.com/turismo/dicas-turismo/fora/no-topo-do-monte-fuji-minha-historia-e-dicas-para-a-escalada/
https://melevadeleve.com/trekking-no-monte-fuji-japao/

Escute seu corpo
Melhor ir devagar e sempre que correr e quebrar no meio.
Disse lá em cima e repito: a mente é que controla o corpo. Mas é preciso também saber a hora que ele pede para parar. Faça pausas para descansar e se necessário, para dormir. Preste atenção às dores e à sua respiração. Chegar lá em cima não é uma competição com os outros. Vá no seu ritmo.

Respeite o Fuji-san
O Fuji é um lugar com muito significado para os japoneses. Como disse aí em cima, há uma conexão religiosa e uma ligação com os deuses.
Respeite a natureza do local e as práticas dos japoneses. Leve o seu lixo embora, siga as orientações do caminho, suba em silêncio para não invadir o espaço do outro. Mais que o desafio físico e a aventura de estar na montanha, essa é uma oportunidade de conhecer um pouco da cultura do país e entender os seus próprios limites. Aprendizado e autoconhecimento, nunca é demais.

Nascer do sol inesquecível. Valeu cada passo, recompensou todo o esforço.
Nascer do sol inesquecível. Valeu cada passo, recompensou todo o esforço.

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Dicas e o relato de quem já subiu o Monte Fuji, no Japão.