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Descobrindo o red light district de Osaka, sem querer

Cada viagem tem sua história, mas algumas delas são ótimas para contar e relembrar, e essa é uma delas. O famoso red light district, o bairro da prostituição de Amsterdam, todo mundo conhece, mas sabia que existe algo bem parecido em Osaka, no Japão?

Pois é, eu conheci esse bairro, mas não exatamente por ser uma atração turística. Na verdade, eu não sabia da existência de lugares como esse no Japão, mas… veja como foi a história.

Tudo começou em Kyoto. Depois de um dia cheio de templos e de andar muito, fui para a área comum do hostel em que estava hospedada para relaxar e interagir com o pessoal. Me juntei à um grupo de umas 8 pessoas e ficamos conversando por horas.

Toda conversa de viajantes inclui assuntos como: de onde você é, por onde passou e para onde vai. Não raro encontro pessoas que passaram por lugares que ainda não fui e pego todas as dicas, algumas vezes quem dá as dicas sou eu. Às vezes dou sorte de encontrar pessoas que vão para o mesmo lugar na mesma época e combinamos alguma coisa no destino futuro. Foi assim que conheci o Florian, um alemão que estava indo para Osaka.

Tenho amigos que foram ao USJ, a Universal Studios do Japão, e falaram muito bem. Ir a um parque desses sozinha não ia ter a menor graça e eu estava à procura de alguém para ir comigo. O Florian também queria ir e combinamos de ir juntos no seu primeiro dia em Osaka, que seria o meu último dia no Japão. Trocamos facebook e fomos conversando.

Eu fui para Osaka no dia seguinte, mas ele foi só 2 dias depois. Combinamos de nos encontrar na estação de trem Tennoji às 10h30. Ele iria fazer o check out em Kyoto no primeiro horário, pegar o trem para Osaka, deixar as malas no hostel e seguir para o ponto de encontro. As estações de trem no Japão não são pequenas, principalmente em cidades grandes como Osaka, mas incrivelmente foi bem fácil de nos encontrarmos.

Fomos para USJ e tivemos um dia ótimo e divertido, cheio de montanhas-russas, cinemas com cadeiras que se mexem de um lado para o outro e até a recém-inaugurada área do Harry Potter nós conhecemos, mas a fila de 4 horas para ir em cada brinquedo nos desanimou e acabamos só experimentando a cerveja amanteigada.

Universal Studios Japan
Universal Studios Japan

Combinamos de jantar na Dotombori Street, uma rua de Osaka super famosa pela concentração de restaurantes. Antes disso, o Florian precisava passar no hostel para fazer check in, pois como ele foi muito cedo para deixar as malas o check in ainda não estava liberado, mas deveria ser feito antes das 8h da noite.

Saímos do parque por volta das 7h e seguimos para o hostel. Eis quando Murphy resolve aparecer. Como não podia ser diferente, nós pegamos o trem errado na baldeação e voltamos para a estação da USJ. O erro foi corrigido facilmente graças ao Google maps do celular do Florian, mas o tempo para chegar no horário ficou bem apertado depois disso. Depois de nos dizer qual o trem certo, o celular que foi usado o dia todo ficou sem bateria.

Chegamos na estação do hostel, começamos a andar e o Florian me fala:

– Eu não lembro do caminho até o hostel, de dia tudo parecia diferente

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– Como você chegou no hostel hoje de manhã?

– Seguindo o Google maps, mas meu celular está sem bateria agora

– Bom, podemos perguntar para alguém como chegar. Você tem o endereço do hostel?

– Tenho no meu celular só…

– Você lembra do nome do hostel?

– Hmmm… não exatamente. Era alguma coisa com Peace, acho, mas lembro que era perto de um hospital

– Eu tenho um mapa da cidade no meu celular, mas não tenho internet. Podemos procurar pelo hospital e de lá vemos se você lembra do local.

 

E assim fomos. Nos perdemos um pouco para chegar no hospital, mas conseguimos encontrá-lo por um caminho diferente do que ele fez pela manhã (ele não reconheceu nada pelo caminho). A partir desse ponto meu celular não nos ajudava mais e tudo dependia dele. A região era bem residencial, cheia de ruazinhas bem escuras e estreitas com casinhas típicas de madeira. Todas as ruas pareciam uma com a outra. Andamos por muitas delas, mas não encontrávamos o hostel. Tentamos perguntar para as pessoas que estavam pelas ruas, mas naquele horário a maioria dos comércios já tinham fechado e achamos apenas uma lavanderia cujo senhor saiu correndo quando começamos a falar em inglês.

E então… começou a chover.

– Ah! Que ótimo. Além de fazer você andar sem rumo todo esse tempo, agora vamos andar na chuva. Não sei nem onde enfiar minha cara.

– Alguém por aqui deve conhecer esse lugar. Vamos procurar uma rua com mais movimento e perguntar.

 

Eis que vimos uma casa iluminada com uma senhora na porta e fomos falar com ela. Ela mal falava inglês, mas foi super boazinha e solícita. Pegou o mapa do meu celular e nos mostrou a região onde ficavam os hotéis, mas não era lá que o Florian estava hospedado. Ela foi perguntar para uma menina que estava dentro da casa. Só então reparei no lugar que estávamos.

Tinham algumas casas iluminadas na rua (e nas ruas ao redor), todas com uma senhora de idade na porta e dentro uma menina bonita, maquiada e bem arrumada com roupas que iam de mini-saia e top a vestidinhos de boneca. No interior sempre uma escada para o andar superior e as decorações mais bizarras possíveis – de meigas florzinhas cor-de-rosa às inspiradas na Hello Kitty. Não tenho uma foto desse lugar, mas fazendo pesquisas descobri que ele se chama Tobita Shinchi (dá uma googlada).

Enquanto a senhora entrou para falar com a menina, olhei para o Florian e perguntei:

– Que lugar é esse que a gente veio parar?

– Parece um red light district

– Tenho certeza que é!

 

Nem a senhora, nem a menina nos ajudaram muito, apesar de terem se esforçado bastante. Agradecemos e voltamos a andar sem rumo. Ao virar a rua olhamos um para cara do outro e começamos a rir, quem diria que a gente ia encontrar um lugar desses que eu nem sabia que existia no Japão?

Andamos mais de 1 hora e o horário do check in já tinha passado fazia tempo.

– Onde você encontrou esse hostel?

– Eu só o escolhi porque era o mais barato

– Não perguntei porque você escolheu, mas por onde você fez a reserva

– Ah, foi no hostelbookers

– Que tal a gente procurar um lugar com wifi? Ai podemos usar meu celular para você pegar o nome e endereço do hostel

– É uma boa ideia. Já estamos andando há tanto tempo por essas ruas todas iguais que eu nem sei mais por onde passamos ou não. Vamos procurar o caminho de volta para a estação, por lá deve ter alguma coisa

 

E assim ficou decidido. Viramos a primeira esquerda de onde estávamos e tinha uma casa iluminada.

– É aqui! Não acredito!

 

Enfim, encontramos o hostel! Nem eu acreditei que ele estava lá do nosso lado, bem na hora em que tínhamos desistido de procurá-lo. A hora do check in tinha passado fazia tempo, mas o Florian não teve nenhum problema com isso. Fiquei na recepção esperando enquanto ele preenchia o cadastro e levava as malas para o quarto. Saímos em direção à estação de trem para ir jantar, dessa vez com guarda-chuva, carregador do celular e o mapa do hostel.

Já estava meio tarde e fomos perguntar para o guardinha o horário do último trem. Não podíamos perder! Demos uma volta por Dotombori e o Florian fez questão de pagar meu jantar. Disse que se não fosse meu mapa ele ainda estaria perdido naquelas ruazinhas.

Dotombori Street, famosa rua de restaurantes em Osaka
Dotombori Street, famosa rua de restaurantes em Osaka

Conforme planejado, pegamos o último trem para voltar. Descemos na mesma estação, mas nossos hostels ficavam em direções opostas. Com a certeza de que ele sabia como voltar desta vez, nos despedimos e assim terminou a aventura do dia.

 

Imagem destacada: Gigazine.net

 

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The Author

Patricia

Patricia

Patricia é educadora de formação, marketeira de profissão e viajante por paixão. Nascida em São Paulo, já chamou de casa o Japão, a Austrália, o Chile e tem o passaporte carimbado por uma volta ao mundo. Descendente de japoneses com orgulho e ativa na comunidade nikkei, participa de projetos para divulgação do Japão e para o fortalecimento da cultura japonesa no Brasil. Está sempre em busca de boas recordações para adicioná-las à sua bagagem de memórias.

20 Comments

  1. 24/12/2016 at 10:02 — Responder

    Hahahahaha, que legal!!! Essas histórias são as melhores coisas de viajar! Também já nos perdemos por diversas cidades, mas nunca encontramos algo tão bizarro! Não fazia ideia de que existia algo desse tipo no Japão…

    • 26/12/2016 at 12:10 — Responder

      Se perder por ai pode render muita coisa! haahhaha
      Eu tbm não fazia ideia e tbm achei bizarro!

  2. 24/12/2016 at 11:32 — Responder

    Bem que fixe! Quando estive no Japão não tive essa sorte. Que coisa magnífica. Gostava de ter visto. Os japoneses são mesmo um povo magnífico e singular.

    • 26/12/2016 at 12:03 — Responder

      Pois é, Carla!
      Foi algo bem inesperado. hahaha

  3. 24/12/2016 at 11:46 — Responder

    Realmente apesar de nao entendermos nada e nem eles kkk, estao sempre dispostos a ajudar.

  4. 24/12/2016 at 12:03 — Responder

    Adoro essas suas histórias Patrícia. Isso dá um livro, hein? Beijos.

    • 26/12/2016 at 12:05 — Responder

      hahahahahaha….
      O livro está a caminho (faz tempo…). Preciso terminar de escrever!

  5. 25/12/2016 at 11:36 — Responder

    ma que loucura!! eu já fiz dessas, mas vou te dizer que o lugar que cai não era bonito e iluminado assim não aheuahe tive que sair às pressas!
    Ainda bem que encontraram o Hostel do Florian no final e não perderam a janta!

    • 26/12/2016 at 12:06 — Responder

      Tem lugares que não é muito legal descobrir, né?
      No Japão, dificilmente iriamos cair em uma bocada perigosa. Menos mal.
      No final deu tudo certo! Ainda bem!

  6. 25/12/2016 at 16:06 — Responder

    Hehe que descoberta eim. As vezes a gente descobre cada coisa né!? Mas tenho certeza que valeu a experiência. 🙂

    • 26/12/2016 at 12:07 — Responder

      Com certeza valeu!!
      Se perder por ai sempre rendem boas histórias. hahahah

  7. Que história engraçada! O fantástico de viajar é mesmo as coisas incríveis que nos podem acontecer se estivermos abertos a conhecer realmente o país e as pessoas com as quais nos cruzamos. Não fazia mesmo ideia de que existia um zons destas em Osaka!

    • 26/12/2016 at 12:09 — Responder

      Nem eu fazia ideia de que existia um lugar assim no Japão!
      Viajar aberto e dar chance ao acaso rende experiências assim, né? Adoro isso!

  8. 27/12/2016 at 09:43 — Responder

    Hahahahahahahhahaha adorei a história! Sempre quando a gente se perde em algum lugar, acaba encontrando alguma coisa curiosa ou bacana para conhecer! Eu estou sempre com meu celular em punho, mas evito usá-lo para me orientar: quando vou a uma cidade, estudo um pouco o mapa e ao sair do apartamento ou hotel dou uma conferida onde vamos. Abraços!!!

    • 27/12/2016 at 12:08 — Responder

      Se perder durante uma viagem tem grandes benefícios, né?? hahahah
      Tem que dar chance para o acaso mesmo! =]

  9. 30/12/2016 at 12:25 — Responder

    Em Bruxelas também há uma Red Light e já ouvi falar que em outras cidades da Europa, além de Amsterdam também tem. Mas essa do Japão foi uma grande surpresa! Preciso dizer que fiquei beeem curiosa para conhecer? 🙂

    • 02/01/2017 at 12:25 — Responder

      Pois é, Naiara… pra mim também foi uma surpresa!
      Já sabe o nome e por onde fica. Pode ir lá conhecer, vai ser no mínimo interessante.

  10. 08/04/2017 at 08:09 — Responder

    Acho que uma das razões pelas quais viajamos é viver histórias como essa né não?! O bom viajante se diverte até quando se perde. Eu adorei!

    Estive perto de um lugar assim em Tóquio, mas soube que era meio barra pesada e quando nos demos conta, desviamos o caminho. Soube, por amigos, que tem uns lugares bem esquisitos no Japão…

    Caí, sem querer, no red light district de Nuremberg, às 09:00 da manhã. Nem imaginava que existia ali. Mas eram mulheres e não lolitas! 🙂 bj

    • 17/04/2017 at 17:13 — Responder

      Se perder faz parte da viagem. E é nesse momento que as coisas mais incríveis acontecem (tipo encontrar esse bairro que eu não fazia ideia).
      Eu não faço a menor ideia se esse de Osaka era barra pesada ou não. Não tivemos problemas, pelo menos, apesar de ser um lugar bem isolado.

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