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O dia que quase perdi a mala

Essa é da série: perrengues de viagem que viraram ótimas histórias para contar depois, mas na hora deram uma certa tensão. Já imaginou o desespero de perder a mala com todos os seus pertences no segundo mês de uma volta ao mundo? Eu não só imaginei, como isso quase aconteceu comigo. Ainda bem que o santo protetor dos mochileiros estava do meu lado!

Tudo aconteceu na Indonésia. Estava em Bali e meu próximo destino eram as Gili Islands, um lugar cheio de praias paradisíacas escondidas em 3 pequenas ilhas. Comprei um pacotão de transfer + speed boat para ida e volta por um valor ótimo no hostel em que estava hospedada. Fui, aproveitei a praia e estava no caminho de volta quando tudo aconteceu.

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O plano era pegar o speed boat de Gili até Padang Bay, em Bali, depois um transfer até Kuta e então de alguma forma chegar em Uluwatu, meu destino final. Cheguei no pier de Gili no horário marcado e esperei até o speed boat partir. Tudo certo até então. O pier de Bali era uma confusão só! Taxistas abordando turistas desavisados que não sabiam que o transfer estava incluso na passagem, muita gente e vans para todo o lado. Depois de, eu e minhas malas, minhas malas e eu, vencermos a barreira dos taxistas, fui descobrir qual daquelas seria a van que eu deveria entrar. Eram muitas, todas iguais e sem identificação. Com a ajuda de um mocinho que trabalhava lá, consegui encontrar. Conversei com o motorista, entreguei minha passagem e deixei a mochila no porta-malas.

– Saímos em 10 minutos, ok?

– Ok! Dá tempo de eu ir ao banheiro?

– Sim, pode ir. O banheiro fica ali. Eu espero você voltar.

– Espera mesmo? Não vai me deixar aqui, hein?

– Espero sim. Vá lá e volte aqui para sairmos.

Eu fui. Eu e minha mochila menor com meu passaporte, dinheiro, outros documentos, notebook e um kit sobrevivência. Essa eu só deixo pra trás quando ela fica dentro do quarto que vou dormir. O banheiro ficava nos fundos de um restaurante local, era preciso pagar para usá-lo e era sujo, escuro e super pequeno, porém necessário. Sabia que a viagem até Kuta era longa, pelo menos 1h e meia, e sem paradas.

Com a bexiga aliviada, fiz o caminho de volta para a van. Foi nesse momento que percebi que não tinha marcado nenhum ponto de referência e como as vans eram todas iguais, não sabia qual delas era a minha. Fiz o caminho que minha intuição guiou, mas não a encontrei. Comecei a ficar preocupada porque o motorista disse que saia em 10 minutos e, mesmo dizendo que iria me esperar, não queria atrasar o grupo todo ou correr o risco dele me deixar para trás (principalmente porque minha mochila estava com ele).

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Andei de um lado para o outro e não achei. Um mocinho que trabalhava lá percebeu minha cara de perdida e foi me ajudar.

– Para onde você está indo?

– Estou procurando a van que vai para Kuta.

– Essa van já saiu. Você vai para lá?

Momento desespero começando.

– Eu vou. Como assim a van já saiu?

– Ela saiu tem uns 5 minutos. Você pode pegar a próxima.

– Não, eu tenho que pegar aquela que acabou de sair!

– Mas ela já foi. Espere aqui que te aviso quando a próxima van para Kuta for. Cadê sua passagem?

– Minha passagem está com o motorista.

Recebo um olhar desconfiado.

– Você não tem mala? Só essa mochilinha?

– Eu tenho uma mala e ela está dentro da van.

– Que van?

– Da que acabou de sair.

– E sua passagem?

– Está com o motorista da van que acabou de sair.

Dessa vez recebo um olhar de assustado e completo:

– Eu deixei a mala e a passagem com ele, fui ao banheiro e ele disse que ia me esperar.

– Espere aqui que vamos resolver isso.

Ele pega o celular e faz uma ligação. Troca algumas palavras em bahasa, a língua local que eu não entendo nada. Depois liga para outra pessoa e continuo sem entender. Outras pessoas que trabalham por lá coordenando as vans começam a se aglomerar em volta da gente.

– Não se preocupe, vai dar tudo certo.

– Onde está a van com a minha mala?

– Eu falei com o motorista e ele está voltando.

– Tem certeza disso? Eu não quero perder minha mala.

– Você não vai perder nada. Veja, meus olhos estão abertos.

Pelo que entendi, “meus olhos estão abertos” é uma expressão local que quer dizer algo como confie em mim.

Poucos minutos depois chegou um cara em uma moto.

– Você pode ir com ele. Ele vai te levar até a van.

– Mas você não disse que a van estava voltando?

– A van está te esperando. É mais rápido você ir de moto do que a van voltar para cá.

Essa foi a minha vez de lançar um olhar desconfiado.

– Veja, meus olhos estão abertos.

Confesso que achei a história estranha, apesar de concordar que a moto é mais rápida. Eu podia subir naquela moto e o cara me levar para qualquer lugar e fazer o que quisesse comigo. Por outro lado, eu não tinha outra escolha. Ou confiava neles ou ficaria sem minhas coisas e sem ter para onde ir. Assim, seguimos eu e um balinês que nunca vi na vida e que não falava uma palavra em inglês, em um moto velhinha a caminho de um lugar que não sabia exatamente onde era. Passamos por lugares que eu não fazia ideia de onde eram, afinal eu nada conhecia da região perto de Padang Bay. Uma curva aqui, outra curva ali, alguns minutos se passaram e… ele para atrás de uma van estacionada na rua e aponta para ela.

Desci da moto, olhei pelo vidro do porta-malas e reconheci minha mochila ali. Ufa! Virei, agradeci o mocinho da moto, abri a porta da van e entrei. Tinha um único lugar vazio me aguardando lá.

– Você falou que ia me esperar e foi embora! – Eu disse para o motorista assim que entrei na van.

– Desculpa, eu esqueci que você tinha saído. Desculpa, desculpa.

O motorista se desculpou tantas vezes que até fiquei com pena dele. Os balineses, no geral, são pessoas bondosas e prestativas. Como acreditam em karma, não fazem mal aos outros, pois tudo retorna para eles mesmos. E eu? Bom, encontrei minha mala e estava a caminho de Kuta, conforme o planejado. Não tinha mais motivos para me estressar ou me desesperar. Hora de curtir a viagem! Logo descubro que essa van estava lotada de brasileiros. Fomos conversando o caminho todo e nem vi o tempo passar. Todos eles iam ficar em Kuta mesmo e eu ia para Uluwatu. O motorista da van me ajudou a parar um taxi na rua e a negociar o valor, assim segui para as próximas aventuras. 🙂

E você? Já passou por um perrengue parecido? Deixe sua história nos comentários.

 

* Imagem destacada: nhanusek via VisualHunt / CC BY-NC-ND

 

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