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Nas fronteiras de Brasil, Argentina e Paraguai

Na segunda noite que estava no hostel conheci umas pessoas “diferentes”. Definição do Paraguai segundo um deles: lá é o lugar onde você vai encontrar as nações mais loucas do mundo: China, Iraque, Índia, Turquia etc. Todos armados até os dentes, mas vivendo pacificamente, cada um na sua. Um tem medo do outro, por isso ninguém mexe com ninguém. O primeiro tiro que sair ali inicia a terceira guerra mundial. (isso são palavras dele).

Então, fui conferir se era realmente desse jeito. A definição dele é um pouco dramática demais, mas não deixa de ser verdade. 
 
A Ciudade del Leste é uma zona!  Todas as misturas de raças possíveis, não sei se a língua local é o português ou o espanhol. Também não sei se a moeda local é o dólar ou o real (sendo a moeda do Paraguai o guarani). Não faço a menor ideia de como funciona o sistema de transporte público deles, mas realmente as pessoas andam armadas na rua! (e inclusive vendem armas nos camelôs, sabe-se lá se são de verdade ou de brinquedo).
 
Eu me senti na 25 de março! Um monte de gente te empurrando, um cheiro ruim na rua, um monte de camelô, montes de lojas de eletrônicos e roupas falsificadas, umas coisas de casa vagabundas e de mal gosto. Entrei em 2 shoppings e em um deles tive a sensação de estar no shopping da 25 mesmo (e engraçado que tive um dejavu, a sensação que eu já estive naquele mesmo lugar.  Realmente, eu fui para o Paraguai uns 20 anos atrás e claro que não me lembrava de nada. Quando entrei em umas das lojas, exatamente aquela imagem me veio na cabeça, com o mesmo posicionamento das prateleiras, dos caixas e das placas. Engraçado, né?). O outro shopping que eu entrei era totalmente ao contrário, tudo bem organizado e bem decorado. Me senti em uma loja de departamento de Nova York! (não por acaso, é a loja que mais investe em publicidade, com milhões de outdoor no lado brasileiro). Já entrei lá sabendo que não deveria comprar nada, já que era uma das lojas mais caras.
 
Essa informação na verdade não fazia a menor diferença pra mim, porque fui sem a intenção de gastar mesmo. Gastei exatos R$ 3,30 no ônibus para ir, mais R$ 3,30 no ônibus de volta. 
 
Vale falar sobre o rígido controle que eles tem nas fronteiras. Para entrar no Paraguai não tem controle nenhum! O ônibus cruza a fronteira de um país para o outro como se estivesse mudando de bairro. Para voltar para o Brasil o controle é mais rigoroso: entram uns policiais no ônibus e revistam todas as bolsas e sacolas.
 
A ideia inicial era dar uma volta nessa bagunça e depois ir para a reserva ecológica que fica do lado de Itaipú (e conhecer a hidrelétrica pelo lado paraguaio). Depois de ver as lojas, fui procurar o ônibus que ia para a reserva, mas não existe ponto de ônibus nesse lugar! Não tem ponto de ônibus, mas tem meia dizia de policiais por esquina, então fui perguntando para todos eles (inclusive um deles se ofereceu para me levar até lá, mas eu recusei a carona). Passei uns 30 minutos andando e perguntando até chegar em um terminal de ônibus lotado, sujo, escuro, velho, caindo aos pedaços, que só tinha homens fedidos e ninguém mais falava português. Decidi deixar para ver a onça da reserva em uma próxima visita e voltar para a zona com as pessoas armadas. Enquanto isso, estava pensando como encontrar o ônibus de volta (já que nao existem pontos, mas ônibus tem de monte). Passei do lado de um ônibus e um menino gritou lá de dentro: Vai para o Brasil? Entrei no ônibus e voltei.
 
O dia seguinte se resume a esperar pacientemente o seu ônibus passar! Destino: Puerto Iguazu, Argentina.
 
Conheci um menino de SP e seu pai que estavam indo para as cataratas do lado argentino, no ponto de ônibus, e passei boa parte do caminho conversando com eles. Esperamos mais de meia hora o ônibus que ia para Argentina.
 
Primeira parada: aduana brasileira. Pegamos uma fila gigante para a mulher da polícia federal pegar meu RG, apertar 3 botoes no computador e me mandar embora. Mais meia hora esperando o ônibus e descobrimos que só estrangeiros precisam parar na aduana brasileira. Eu podia ter ido direto para a aduana argentina! 
 
Segunda parada: aduana argentina. O processo foi o mesmo, com a diferença que a fila foi bem menor, os policiais argentinos eram muito mais mal humorados e o ônibus espera as pessoas passarem pela aduana para prosseguir seu caminho (bom, foi uma espera de ônibus a menos). Eu fui no ônibus e o menino com o seu pai ficaram na casa de câmbio para trocar dinheiro.
 
O motorista do ônibus me deixou em uma rotatória e de lá fui andando para um lugar que o dono do hostel tinha recomendado – Arapuca. Uma casa de madeira bonita, mas sem nada de interessante para fazer. 

Arapuca

Em 15 minutos estava voltando para pegar o ônibus para a cidade, mas onde era o ponto de ônibus? Eu desci numa rotatória no meio do caminho, em nenhum ponto. Sai andando, mas tinham várias bifurcações, nenhuma placa, e não sei para onde eu estava indo. Quem mais tem a capacidade de se perder nas estradas argentinas (a pé! e com o sol do meio-dia fritando sua cabeça), além de mim? O maior problema de se perder no meio da estrada é que de um lado tem mato, do outro lado tem mato, e as únicas pessoas por lá são as que estão nos carros passando a 120km/h do seu lado.

 
Enfim, achei um ponto (de taxi) e ele me mostrou o ponto de ônibus (que ficava do outro lado da estrada), mas é claro que antes disso me ofereceu uma corrida no taxi dele, que custava 18 pesos. Preferi esperar o ônibus e pagar 1,50 (o que é cerca de R$ 0,75. Porque os ônibus no Brasil são tão caros?). Depois de uns 40 minutos esperando o ônibus no sol, comecei a pensar que quase R$ 10 num taxi nao era tanta coisa assim.
 
Finalmente surgiu um ônibus e quando eu vou pagar, para a minha surpresa o motorista responde: não é nada, esse é o ônibus internacional. Eu te deixo lá no centro. Não entedi até agora porque eu não precisei pagar. E depois de umas 3 horas entre esperar o ônibus e estar no ônibus, cheguei em Puerto Iguazu!
 
A primeira coisa que eu precisava era um mapa da cidade (não sou nada sem um mapa!). Entrei, com toda minha cara de pau, em um albergue. “Boa tarde, quarto ou dormitorio?” minha resposta: “Boa tarde, eu só queria um mapa da cidade”. Eles não tinham mapa (ou não quiseram me dar), mas me disseram onde ficava o information center. Cheguei lá e estava fechado. Bem na frente tinha uma agência de turismo e fui pedir um mapa. Eles também não tinham mapa, mas a menina respondeu todas as perguntas que eu tinha e ela ainda me disse que o information center abria mais tarde, para eu voltar lá pelas 4h. Bom, a essa hora eu não precisaria mais deles, então nem voltei lá.
 
Almocei e fui andando até o marco das 3 fronteiras, que é exatamente o ponto em que o Rio Iguaçu se junta com o Rio Paraná e onde fica a fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. Cada lado tem um “monumento” (monumento quer dizer um poste) pintado com as cores da sua respectiva bandeira.
O marco das três fronteiras

O "monumento" argentino

O "monumento" brasileiro

E o "monumento" paraguaio

Voltei para o centro para dar uma volta e estava tudo fechado! Foi ai que eu me toquei que era sábado e a única rua que estava com o comercio aberto, por um acaso, chamava Avenida Brasil.
 
A volta começa com a espera pelo ônibus já-perdi-as-contas-de-qual-é. Não foi tão ruim assim, uns 20 minutos, mas mais uma vez não  tinha ponto de ônibus. Estava em uma esquina junto com uns artesãos que deixavam as coisas para vender no chão, junto com 2 pôneis que estavam lá para tirar fotos com turistas e junto com um outro cara sentado na calçada que acho que era um mendigo.
 
Dentro do ônibus conheci uma suíça. História interessante: ela é enfermeira e quer trabalhar na África, mas acha que não está preparada para enfrentar o choque de culturas, a diferença socio-econômica etc. Então ela decide ir para o Equador e lá passa 2 meses estudando espanhol, para viajar pela America do Sul. Com isso, são 7 meses viajando, um espanhol praticamente fluente (viajar é a melhor maneira de aprender uma língua nova) e ela ainda tem 5 semanas no Brasil antes de ir para Buenos Aires para passar 10 dias meditando. Depois disso ela não tem planos, mas volta para Suiça só no final de janeiro. Adoro a forma como os jovens europeus viajam e cada vez tenho mais certeza que os brasileiros não sabem viajar (e que o Brasil não está preparado para receber estrangeiros, a não ser para business).
 
Uma das coisas mais interessantes das viagens são as pessoas que se conhece por ai, nos lugares mais inusitados – no ponto do ônibus, dentro do banheiro, companheiros de quarto ou alguém que te pede para tirar uma foto ou te pergunta as horas e acaba passando o resto do dia com você. Você passa algumas horas com essa pessoa, sabe todo o roteiro de viagem dela, sabe com o que ela trabalha/estuda, sabe onde ela mora, sabe um monte de coisas da vida dela e ela da sua. E no final ela te fala “foi um prazer te conhecer”, “foi legal conversar com você”, “a gente se ve por ai”, e você responde “tchau, a gente se ve por ai”, com a certeza que nunca mais vai ver ela de novo. A maioria das vezes essas pessoas te induzem a fazer algumas coisas ou a ir em lugares que você não iria se estivesse sozinho ou evitam que você faça alguma coisa ou vá a algum lugar que não deveria. Já teve a sensação que algumas pessoas simplesmente aparecem na sua vida por alguns instantes, te ajudam, e do mesmo jeito que apareceram, elas desaparecem (devaneios a parte, mas esse tipo de coisa acontece com mais frequencia quando eu estou em algum lugar sozinha).
 
Disse tudo isso porque eu tinha certeza que eu nunca mais veria essa suiça, mas gostaria de saber se ela conseguiria ir para a África. Voltei pro hostel, tomei um banho e fiquei na varanda lendo meu livro. Quando volto pro quarto, quem está dormindo no mesmo quarto que eu? Achei isso tão engraçado! Passei a noite conversando com ela e nos despedimos de novo hoje de manhã, com o mesmo “a gente se ve por ai”. Por um acaso, ela esta vindo para SP passar 5 semanas (está a caminho mesmo, 16h de ônibus e ela chega 2ª de manhã).
 
Hoje acordei, fechei minha mala e desci para fazer o check out. O dono do hostel e o menino que trabalha lá (são 2 chilenos) fizeram o maior drama. “Não acredito que você vai embora, fica mais uma semana aqui.  Vamos esconder sua mala assim você vai ter que voltar”. Eles são bonzinhos e me deram todas as dicas que eu precisava durante a semana que fiquei lá! Se alguém precisar de uma recomendação de hospedagem em Foz, eu recomendo!