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Couchsurfing – viaje com e como os locais

Foi em 2009 que eu vi uma matéria na internet falando de um site para viajantes que proporcionava hospedagem de graça e troca de experiências. Não entendi muito bem como funcionava, mas parecia interessante. Fiz meu cadastro e decidi tentar usar na próxima oportunidade de viagem.

Essa chance chegou em um feriado que fui para Recife, tudo decidido de última hora. Enviei um pedido pela plataforma e a resposta chegou em poucas horas: “Infelizmente não posso te receber, pois não estarei em casa nesses dias. Vou tentar falar com outra pessoa e ver se ela tem disponibilidade. Aguardo seu retorno”. Como tinha poucas horas para embarcar, decidi fazer uma reserva em um hostel mesmo para garantir um lugar para ficar e só respondi essa pessoa quando voltei para São Paulo. O retorno dela foi o seguinte: “Disse que ia falar com outra pessoa e tinha conseguido com uma amiga um lugar para você, mas não tive resposta”. Poxa vida, perdi a oportunidade! 🙁

Tentei novamente quando fui pela primeira vez para Tailândia. A resposta foi a mesma, a pessoa não estaria em casa. Comecei achar que a proposta do site era boa, mas que na prática ele não funcionava e por um bom tempo esqueci dele. O tempo passou e comecei a ver uma ou outra pessoa relatando sua experiência no Couchsurfing pelo facebook e comecei a reconsiderar usá-lo. Tive a certeza que deveria retomá-lo quando decidi fazer a viagem volta ao mundo, já que seria uma ótima oportunidade de ter uma experiência mais local, além de ajudar no orçamento.

 

O que é Couchsurfing?

Se você leu até aqui e ainda não sabe do que eu estou falando, vamos esclarecer. A melhor e mais simples explicação que já ouvi foi “Couchsurfing é o Facebook dos viajantes”. É mais ou menos isso mesmo, uma mídia social que conecta pessoas que estão viajando à pessoas que moram (ou estão) no local. São 3 possibilidades:

  • Encontrar um lugar para ficar hospedado
  • Receber alguém na sua casa
  • Encontrar pessoas para passear, jantar, conversar ou qualquer outra coisa (sejam locais ou viajantes)

Funciona assim: você entra no site (www.couchsurfing.com) e cria o seu perfil. Entre outras coisas, você indica se quer receber pessoas em casa ou não, se está viajando ou se tem disponibilidade para encontrar alguém e mostrar a cidade (ou sair para jantar, para conversar etc). Tudo é grátis, ou seja, quem se hospeda não paga e quem cede a casa não ganha.

 

Para quem abre a casa e recebe pessoas

No geral, o processo é meio passivo. Você indica no seu perfil que pode receber pessoas, explica suas regras (só recebe nos finais de semana, não aceita fumantes, aceita crianças, recebe no máximo por 3 dias etc) e descreve sua casa e rotina (seu surfer vai ter um quarto ou um colchão na sala? Tem transporte público perto? Pode usar a cozinha? Você tem tempo para sair com ele? Quais os horários da casa? etc). Ai, é só esperar os pedidos chegarem e decidir aceitar ou não. Você também pode responder pedidos abertos.

 

Para quem procura lugar para ficar

É preciso fazer uma busca das pessoas que têm sofá disponível na cidade que você quer, enviar os pedidos e aguardar as respostas. Você deve ler com atenção cada perfil e estar de acordo com as regras da casa antes de enviar a solicitação. Também é possível mandar um pedido aberto para todas as pessoas da cidade também.

 

Para quem quer companhia ou gosta de mostrar sua cidade para os viajantes

Quem viaja sozinho nem sempre precisa estar só. O Couchsurfing é uma ótima maneira de encontrar pessoas para passar o dia e conhecer a cidade do ponto de vista de quem mora lá. Quem não está viajando tem a oportunidade de se manter em contato com estrangeiros, aprender uma nova língua e uma nova cultura. É pura troca de experiências.

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Minha experiência surfando

Como estava dizendo, voltei a ter contato com a rede na minha viagem volta ao mundo. Minhas tentativas iniciaram na Europa. Mandei dezenas de pedidos antes de chegar no velho continente, mas não tive muito sucesso. Na verdade, tive poucas respostas. Era alto verão e época em que os europeus aproveitam para sair de casa e viajar, por isso o retorno foi tão baixo.

Não desisti e consegui minha primeira resposta positiva em Kuala Lumpur, na Malásia. Mandei pedidos apenas para meninas, preferi não arriscar sendo minha primeira experiência e ainda em um país de religião e cultura bem diferentes (a Malásia é um país mulçumano). De 3 solicitações, recebi 2 respostas positivas. Que diferença da Europa! Optei por ficar com a que respondeu primeiro e fomos conversando para acertar detalhes do tipo: como e que horas chegar na casa dela.

Seguindo as orientações da Lina, sai da rodoviária e peguei o metrô até uma determinada estação e depois peguei um táxi comunitário que me custou 1/4 do preço de uma corrida comum (minha primeira economia usando dicas de locais). Cheguei na casa dela no horário combinado e exatamente quando ela estacionava o carro, voltando do trabalho.

Ela me mostrou meu quarto, a casa e ficamos conversando um pouco. Aquelas conversas de quando as pessoas se conhecem – o que você faz da vida, por onde passou durante a sua viagem, quais são seus planos saindo daqui etc. Ela é ótima, super brincalhona e divertida. Pouco tempo depois chegaram 3 meninos – 2 argentinos e 1 canadense que estavam viajando o sudeste asiático juntos – e a conversa de apresentação recomeçou. Em uma ou duas horas de conversa já estávamos todos íntimos, quando chegou um francês que estava na casa já fazia alguns dias. Para quem queria uma primeira experiência com uma menina, na casa era apenas eu e os 4 meninos (a Lina ficava na casa de cima com a mãe). Sim! Ela tem um andar da casa dela só para receber viajantes.

A Lina se ofereceu para nos levar para ver as Petronas Tower, o principal cartão postal da cidade, e lá fomos nós! Seis pessoas dentro de um carro pequeno. Ela nos levou nos melhores pontos para as fotos e ainda nos mostrou um prédio em que podíamos subir de graça para ter fotos das torres de um outro ângulo. Ainda passamos em um lugar que tem vista para toda a cidade, onde poucos turistas vão porque só é acessível de carro e está fora da rota dos guias tipo Lonely Planet. Na volta, paramos para jantar em um restaurante que ela frequenta e adivinha quem nos ajudou com os nomes estranhos do cardápio e na escolha de comidas típicas?

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Petronas Towers, o cartão postal de Kuala Lumpur

Eu estava curtindo aquilo. Em poucas horas já tinha amigos novos, tinha conhecido o principal ponto turístico na cidade, tinha ido em um lugar com uma bela vista que eu jamais descobriria sem a Lina, experimentado a comida local sem dificuldades com o cardápio e tinha um lugar para dormir. Em todo esse tempo eu só mexi na carteira para pagar o metrô e o táxi para chegar na casa dela e para pagar o meu jantar.

No dia seguinte fomos explorar a cidade eu, o canadense e os argentinos. Depois de passar pela Batu Caves e nos perder no metrô e no centro, voltamos para esperar a Lina e o francês. A noite fomos para o CS meeting, uma reunião semanal da comunidade Couchsurfing local e seus hóspedes. Rolou jantar, uma ida ao bar que tem cervejas mais baratas e balada madrugada a dentro.

Em um dos dias a Lina tinha compromisso marcado e não podia sair com a gente, então chamou um amigo para nos levar para passear. Mais um dia de aventuras na cidade com o olhar de um local, com direito a fish spa, sorvete de iogurte e até ao cinema fomos! Assistimos Step Up dublado em bahasa (idioma local) com legendas em inglês e chinês. Nunca tinha visto 2 legendas ao mesmo tempo antes.

Era a última noite desse grupo juntos. Os meninos estava de partida (eu ainda tinha mais um dia) e saímos todos para jantar. Além de nos receber de braços abertos, nos dar um teto para dormir, dar tantas dicas, nos ajudar com o que precisamos, nos dar café da manhã e tantas coisas mais, ela ainda pagou nossa última janta. Ela é uma fofa, não é?

Quando fui para Busan, na Coréia do Sul, mandei um pedido para um menino. Ele disse que não poderia me receber, mas que podia sair um dia comigo. Nos encontramos uma noite, fomos comer o verdadeiro churrasco coreano (algo que eu não faria sozinha por não saber pedir ou como preparar) e ficamos conversando e bebendo cerveja na praia por horas. Em Seoul fiquei hospedada na casa de um coreano super ocupado, mal tivemos contato. No CS meeting da cidade conheci um europeu que morava há alguns meses na Coréia e me mostrou a cidade.

Ainda fui em um encontro de estrangeiros quando estava em Tokyo, no Japão. Nenhum local, ninguém conhecia a cidade muito bem e decidimos fazer isso todos juntos. Foi um dia super divertido! Ainda fiz amizade com uma menina da Estônia e passamos os outros dias juntas explorando outros lugares da capital japonesa.

 

É seguro?

A rede é baseada na confiança. No geral, é seguro sim, mas infelizmente existem pessoas mal intencionadas no meio e é preciso ter alguns cuidados, como em qualquer lugar.

As referências são a arma mais poderosa que a rede tem. Use-as com sabedoria. Você pode escrever uma referência para qualquer pessoa (e qualquer um pode escrever para você) e não há opção de aceitar ou editar. O que escreverem sobre você entra no seu perfil. A única pessoa que pode editar é o autor. Seja sincero na hora de escrever sobre os outros e se sua experiência não foi boa, pode dizer. Essa é a única forma que você tem de alertar as outras pessoas e evitar que aconteça de novo, seja lá o que for. Perfis sem referências geralmente têm mais dificuldade para conseguir surfar ou hospedar.

O Couchsurfing não é site de paquera ou para procurar maridos/esposas. Não use com essa intenção (tem sites apropriados para isso) e desconfie caso receba mensagens com convites para sair ou para se hospedar sem você ter solicitado. Infelizmente isso acontece e esse não é o propósito da rede. Se perceber algo desse tipo, denuncie.

Cuide dos seus pertences de valor (isso vale para quem surfa e para quem hospeda). Assim como você não larga dinheiro, passaporte e cartão de crédito jogados em cima da cama quando está fora do seu quarto em um hotel, não faça isso na casa dos outros. Não esqueça que no primeiro momento todos são desconhecidos. A relação de confiança existe, mas não abuse dela.

O próprio site do Couchsurfing tem uma página com dicas de segurança (em inglês). Veja aqui.

 

Eventos locais

“Ok, curti a ideia! Mas se eu não tenho referências, como vou conseguir um sofá ou hospedar alguém?”

Essa não é uma dúvida só sua e existem algumas opções. Você pode pedir para alguém que você conhece deixar uma referência para você ou participar de um encontro local, conhecer gente e trocar referências.

Lá no site tem uma área de eventos e você pode filtrar por cidade. Em São Paulo, por exemplo, tem evento quase todo dia. Participe, conheça gente nova e vá treinar o inglês (ou o espanhol, francês etc).  A referência vai ser consequência.

Alguns desses eventos são bem organizados e acontecem semanalmente, como foi o CS Meeting que a Lina nos levou, em Kuala Lumpur, que é para conhecer gente mesmo. Como disse, fui no mesmo evento quando estava em Seoul e já participei no de São Paulo também. Outros tem um foco mais específico como estudar idiomas ou fazer um passeio de bike, por exemplo. Tem os que são organizados pelos locais, tem os que são puxados por gringos, tem os que misturam gente do mundo todo e tem os que você vai encontrar só o pessoal do bairro. Tem evento para todos os gostos!

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Nós no CS Meeting de Kuala Lumpur

 

Dicas para surfar

  • Lembre que a proposta da rede é trocar experiências e não a busca de hospedagem grátis.
  • Preencha seu perfil e coloque foto. Ninguém vai hospedar alguém que não se dá ao trabalho de escrever sobre si mesmo e não mostra a cara. Fale sobre o que gosta, o que pensa, onde esteve, o que faz, o que pode compartilhar etc.
  • Leia o perfil das pessoas com atenção e mande pedidos personalizados. Nada de ctrl C + ctrl V nessa hora. As pessoas sabem quando isso acontece e a chance de você receber um não ou nem receber resposta é bem grande.
  • Pense como host na hora de escrever seu pedido. Você gostaria de receber algo como “Estarei em São Paulo daqui uma semana. Você pode me receber?”. Lembre da troca de experiências. O que você pode oferecer, compartilhar ou ensinar? Por que esse host te interessou? Dedique um tempinho para escrever cada pedido.
  • Leve uma lembrancinha. Tem pessoas que são diretas e dizem o que querem no perfil, outras não pedem nada. Pode ser uma caixa de chocolate, algo típico de onde você passou ou um artesanato que você fez. Se não levou nada, pague o almoço ou prepare o jantar para vocês. Não é pelo valor e sim pelo gesto. É simpático, vai causar uma boa primeira impressão e quebrar o gelo do primeiro dia.
  • Converse com seu host, interaja, faça perguntas sobre a vida dele etc. Mais uma vez, troque experiências! Não o trate como a recepcionista de um hotel, ele não está lá apenas para te dizer como chegar em tal lugar ou qual o melhor restaurante para você comer.
  • Mande mais de um pedido. Não ache que você escolheu o seu host e agora é só esperar ele te dizer “venha, estou te esperando”. A pessoa pode estar ocupada ou viajando e não ver a mensagem a tempo ou já ter gente em casa ou simplesmente não gostar de você.
  • Tem épocas mais difíceis de conseguir um sofá. Alta temporada, férias escolares ou datas de grandes eventos são mais concorridas e a probabilidade de encontrar um sofá disponível diminui. Eu, por exemplo, não consegui nada no verão europeu nem em um feriado no Japão, quando as pessoas que geralmente recebem deviam estar viajando. As casas estavam lotadas na época da Copa do Mundo no Brasil também.
  • Choques culturais acontecem. Pesquisar sobre a cultura local antes é sempre válido, mas tem coisas que você só vai descobrir na convivência. A conversa é a melhor solução para resolver mal-entendidos.
  • Essa é óbvia, mas não custa falar. Respeite as regras da casa e ajude nas tarefas do dia-a-dia (arrumar sua cama ou lavar a louça não mata ninguém, né?). Se o dono da casa se sentir incomodado, ele tem todo o direito de te mandar embora a hora que ele quiser. Se você não tem para onde ir isso é problema seu. Tenha um plano B.
  • O mesmo vale se você não se sentir confortável. Não é porque vocês combinaram 3 dias que você precisa ficar esse tempo. Se não curtiu o lugar, saia e procure outro. Só avise seu host que seus planos mudaram.
  • Deixe uma referência para o seu host dizendo como foi sua experiência. E lembre: seja sincero!

 

 

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